Sempre foi complicado para mim o dever de realizar uma
resenha crítica sobre um filme de super-heróis, ainda mais se for um herói que
acompanho desde que me entendo por gente. “É complicado”, como diz o Cabeça de
Teia em um dos diálogos à lá “500 Dias com Ela” (especialidade do diretor Marc
Webb) presente em O Espetacular Homem-Aranha 2: A Ameaça de Electro, mas, no meu
caso, não é manter uma relação com alguém, mas escrever uma análise da nova
aventura do herói aracnídeo. Portanto, meu texto provavelmente terá uma leve
mistura de opiniões referentes à sétima arte e ao universo dos quadrinhos, ou
seja, apontarei os pontos positivos e negativos de O Espetacular Homem-Aranha 2
como filme e os mesmos como adaptação.

Há uma divisão entre
os fãs do Cabeça de Teia: aqueles que preferem as histórias clássicas e os que
apreciam as versões alternativas. Os admiradores do universo original tendem a
preferir os filmes d Sam Raimi, que, apesar de alguns erros, é notável a
semelhança com as primeira histórias do Aranha. Marc Webb, diretor dos novos
filmes, parece cada vez mais querer misturar elementos das versões Clássicas e
Ultimate, coisa que por um lado é positivo e, por outro, negativo. Positivo,
pois nada melhor que uma exploração mais abrangente do super-herói mais
influente da Marvel, algo que qualquer fã deseja ver nas telonas; negativo,
pelo fato da produção simplesmente não seguir o ensinamento de Bem Parker, o
tio falecido e “guia espiritual” do herói (ou, pelo menos, costumava ser): “Um
grande poder requer uma grande responsabilidade”.
Em O
Espetacular Homem-Aranha 2: A Ameaça de Electro a história segue o que
fora introduzido no primeiro filme. O começo da nova aventura mostra com mais
detalhes e (vários) mistérios o que aconteceu com os pais de Peter (Andrew
Garfield) e qual era o envolvimento de Richard Parker (Campbell Scott) com a
OsCorp, companhia de Norman Osborn (Chris Cooper). No desenrolar da trama,
Peter , ainda atormentado pelo seu passado, decide procurar mais respostas a
respeito da ligação do seu pai com a empresa de Osborn e, como se não bastasse,
outra coisa decide lhe atormentar: a promessa que fizera para o pai de Gwen
Stacy (Emma Stone), sua namorada, antes deste ser morto pelo Lagarto. A
preocupação que tem Peter de que algo aconteça a sua amada o faz afastar-se
dela. Para completar, quando Harry Osborn (Dane DeHaan), herdeiro da OsCorp e
amigo de infância de Peter, retorna à cidade e descobre que precisa urgentemente
do DNA do aracnídeo, o herói fica numa complicada situação, porém, não pior que
a outra que surge quando o engenheiro eletricista Max Dillon (Jamie Fox) sofre
um acidente de trabalho e passa a absorver eletricidade e controla-la,
tornando-se, assim o Electro.
Como muitos esperam,
o vilão em destaque do filme é o Electro. Gostaria poder dizer que isso era
verdade. Sinceramente, ainda não entendi o motivo do subtítulo do filme ser “A
Ameaça de Electro”, se o personagem não consegue ser realmente a tal ameaça que
todos estavam esperando. A caracterização de Fox como o icônico inimigo do
Homem-Aranha, apesar de peculiar (voltando-se mais para o visual do vilão na
versão Ultimate), ficou muito boa, porém, não adianta colocar um personagem
visualmente bem feito em um filme se não souber aproveitá-lo. Primeiramente,
Electro não possui qualquer motivo, tampouco objetivo para tornar-se um super
vilão, a não ser o fato (extremamente clichê) de querer aparecer ou ser alguém.
Para piorar a situação do personagem, que devia ter sido o mais importante e,
por conseguinte, o melhor do longa, este acaba se tornando uma espécie de
marionete de Harry Osborn para recuperar a OsCorp após um golpe e extrair dos
laboratórios da empresa a substância que o transformará no também icônico vilão
Duende Verde.
Tenho que admitir
que, no começo, durante a divulgação dos trailers e imagens do filme, fiquei
receoso com a possibilidade do visual do novo Duende ser alvo de piadas; porém,
quando você assiste ao filme, percebe que a caracterização do novo vilão ficou
nem um pouco da maneira como imaginávamos: Visualmente, o vilão está digno!
Porém, o mesmo problema do Electro acontece com o Duende, isto é, a falta de
exploração do personagem. Não vimos nem metade do potencial do jovem ator Dane
DeHaan de interpretar o vilão, que ficou preso no seu papel ora bom, ora mimado
e irritante, de Harry Osborn; quando, finalmente, a personagem de DeHaan começa
a ficar realmente interessante, seu momento é apenas um, porém, um momento
baseado numa passagem clássica dos quadrinhos que muitos fãs do Aranha irão
gostar. Particularmente, tal passagem fora utilizada de maneira inadequada nos
cinemas, por ter sido muito rápida e sem a emoção, ou a tonalidade épica, que
merecia. Agora, só nos resta esperar que o Duende Verde apareça nos próximos
filmes e que a produção procure ter o mínimo de respeito com o clássico vilão. Além
do Electro e do Duende, outro clássico vilão é introduzido na trama: o
terrorista russo Aleksei Mikhailovich (Paul Giamatti) que, mais tarde, se
tornará Rino (no filme, talvez o personagem seja baseado na versão Ultimate,
que se chama R.H.I.N.O); este, porém, só aparece no momento em que o público
sequer lembra de sua participação no início do filme e de suas motivações, nem
mesmo tem um grande momento, o que aconteceu, apesar dos pesares, com Electro e
Duende Verde. Porém, tudo indica que o personagem aparecerá num terceiro filme,
até pelo fato de este ser um integrante do Sexteto Sinistro, grupo de super
vilões que, provavelmente, será mostrado nos próximos filmes, para a alegria de
muitos fãs.
Deixando agora de
lado minha frustração com o modo como grandes vilões foram tratados no filme,
falarei agora do roteiro que, infelizmente, ainda não sei decidir se foi tão
fraco, ou até mesmo pior, que o do primeiro filme. Incrível como essas duas
novas produções cinematográficas do Homem-Aranha, que tinham tudo (ou quase)
para dar certo, justamente pelo fato de seguir a linha das antigas HQs
misturando vários elementos dos novos universos, consegue aproveitar a história
de modo tão imprudente. Na trama, tudo parece se ligar até um único ponto (mata
logo a OsCorp), o que deixa a história com uma certa crise criativa, sem falar
na notável história de amor indie à lá Marc Webb entre Peter Parker e Gwen
Stacy, forçada ao extremo, porém com alguns momentos até agradáveis. O problema
é que um romance de comédia romântica como 500 Dias com Ela (de Webb) não
encaixa em filmes de subgênero “super-herói”. Não que a comédia romântica de
Webb seja ruim, muito pelo contrário, mas percebemos esta forçada em
Homem-Aranha pelo fato de não se encaixar no gênero do filme. A química entre
Peter e Gwen funciona em alguns momentos, mas exagera no decorrer do filme.
Além da relação amorosa do personagem título, há também a convivência com os
coadjuvantes; nesse segundo filme, a relação entre Peter e Tia May (Sally
Field) está bem mais desenvolvida e emotiva. O que faltou, porém, foi um
personagem que servisse de guia, ou inspiração, para Peter Parker, como o seu
Tio Bem e o Dr. Connors no primeiro filme.
Talvez o maior (ou
até mesmo o único) ponto positivo no filme tenha sido seus recursos técnicos. A
fotografia está deveras excelente, inclusive nas cenas de acrobacia e nas lutas
com o Electro que mostra muito a utilização da cor azul. Os efeitos visuais
estão bem distribuídos em cenas de ação que, apesar das inúmeras cambalhotas
dos personagens, são bem nítidas, com ótimas cenas de câmera lenta e tudo mais.
Não tive a oportunidade de assistir o filme em 3D, mas garanto que em cenas de
captura slow motion, os efeitos em terceira dimensão estão impecáveis.
Eis, então, meu
veredito para O Espetacular Homem-Aranha: A Ameaça de Electro: decepcionante
como filme e adaptação, porém, ao mesmo tempo, divertido como ambos. Talvez
minha fúria com o filme seja pelo fato de este ter uma melhor aproximação com
as HQs, diferente dos filmes de Sam Raimi, mas, infelizmente, não aproveitar
tal façanha. É justamente o inverso dos filmes de Raimi, que, apesar de não
seguir bem os parâmetros das histórias em quadrinhos, conseguia fazer menções
honrosas a essas. Outro problema dos novos filmes do Aranha é a imagem
completamente distorcida de Peter Parker: Andrew Garfield pode até ser um ótimo
Homem-Aranha, isto é, brincalhão e “tirador de onda”, como sempre foi, mas não
consegue desempenhar bem a identidade secreta do herói; o Peter de Garfield não
é aquela imagem de qualquer garoto nerd ou perdedor que o personagem sempre
foi, tal imagem que é um dos maiores pontos positivos do herói fora do
uniforme, pois qualquer adolescente, ou até mesmo adulto, consegue se
identificar como um Peter Parker da vida.
Concluindo, deixo
claro que o filme não é ao todo ruim. Ora supera o primeiro, ora se iguala e ora
decai em relação ao antecessor. Há um grande poder nas mãos da Sony Pictures, isto é, as adaptações
para o cinema de um dos super-heróis mais populares e queridos de todos os
tempos. Mas, cadê a responsabilidade?
O Espetacular Homem-Aranha 2: A Ameaça de Electro (The Amazing
Spider-Man 2: Rise of Electro)
Direção: Marc Webb
Produção: Avi Arad e Matt Tolmach
Roteiro: Alex Kurtzman, Roberto Orci e Jeff Pinkner (Baseado
nas obras de Steve Ditko e Stan Lee)
Trilha
Sonora: Hans Zimmer
Elenco:
Andrew Garfield, Emma Stone, Jamie Foxx, Dane DeHaan, Chris Cooper, Paul
Giamatti, Sally Field, entre outros.
EUA, 2014 –
2h 22 minutos
Nota: 5/10