terça-feira, 29 de março de 2016

Batman Vs Superman: A Origem da Justiça - Crítica

 SEM SPOILERS

 Em 2013, o cineasta Zack Snyder, responsável  por duas grande adaptações de quadrinhos para o cinema, “300” e “Watchmen”, nos mostrou que o Universo Cinematográfico DC Comics poderia subir de acordo com os alcance dos voos do Superman, em “Homem de Aço”, mesmo devido algumas quedas cometidas pelo roteiro do longa-metragem. Agora, em “Batman V Superman: A Origem da Justiça”, a altura do voo é inegável, mesmo contendo algumas turbulências, mas que não interferem no controle do filme.

 Todos sabem que o universo DC das telonas será bem diferente da Marvel, devido às temáticas mais “maduras” abordadas nos filmes, o tom sombrio e a ausência de humor irreverente (podem ficar tranquilos que Batman Vs Superman contém humor, mas, ainda vou chegar lá), e é claro que a ideia de começar uma série de filmes baseados nos personagens da maior concorrente da companhia dos heróis de Stan Lee iria deixar os fãs de “filmes de super-heróis” preocupados e até mesmo sem fé. A recepção mista de “Homem de Aço” dividiu opiniões a respeito do possível sucesso ou fracasso da DC Comics no cinema. Tal incerteza aumentou ainda mais quando Bem Affleck fora escalado para interpretar o Homem Morcego nas telonas.

 Porém, estamos falando de Superman versus Batman; como diz Lex Luthor (Jesse Einsenberg), a maior batalha de gladiadores da história, Deus versus Homem, dia versus noite. As mitologias do Filho de Krypton e do Morcego de Gotham são as mais importantes e influentes das histórias em quadrinhos. Talvez, o primeiro heróis de todos nós tenha sido o Superman, devido ao seu tão famoso símbolo, capa vermelha e simplesmente ao nome “super”; e, talvez, nossa primeira paixão por vilões tenha surgido nas HQs, desenhos animados, ou séries de TV do Batman. Antes de assistir Batman Vs Superman, questionava se gostaria do filme, por ter os dois heróis mais importantes da cultura pop, mesmo que fosse ruim. Devo dizer que adorei mesmo o filme não sendo ruim. Muito pelo contrário, na verdade, pois o novo longa-metragem de Zack Snyder era o que a DC estava realmente precisando para ganhar o tão merecido destaque no cinema.

 Dirigido de forma competente e até mesmo poética, Batman Vs Superman começa em grande estilo, mostrando um importante acontecimento na vida de Bruce Wayne (Affleck) e seguindo para os acontecimentos em Metrópolis, em “Homem de Aço”. Percebendo a ameaça do alienígena de Krypton, Bruce se opõe contra ele e descobre uma vantagem quando cientistas descobrem um resíduo mineral do Planeta natal do Superman capaz de enfraquecer suas células. O grande problema é que tal material já está nas mãos do bilionário excêntrico Lex Luthor (Einsenberg) e, para completar a situação do Homem Morcego, o tal alienígena de Krypton descobre suas atividades justiceiras contra criminosos de Gotham, considerando-as brutais. O enredo do filme se estende muito mais a isso tudo, abordando temas políticos, religiosos, sociais e, o mais importante, temas presentes em duas clássicas séries de HQ, cujos nomes não mencionarei, sendo uma do Batman e outra do Superman. Em resumo, a história principal do filme é dividida em dois enredos: a primeira, envolvendo Bruce Wayne e sua busca pelo material kryptoniano que está nas mãos de Lex Luthor, a fim de fazer o Superman, que causou tanta destruição e caos desde a batalha de Metrópolis (o longa possui uma incrível sequência de ação que mostra a visão de Wayne sobre a destruição da cidade, no primeiro filme), sangrar, e o enredo que envolve o confronto político-ideológico a respeito da confiança do governo e da população no herói de capas e botas vermelhas.

 Talvez, o filme esteja originando opiniões mistas a respeito da crítica especializada por ser um total aglomerado de fanservices e referências de HQs, além da história complexa demais para ser introduzida em apenas um longa-metragem. Digo, como fã de longa data, não apenas da DC Comics, mas de filmes do gênero “super-heróis”, que a produção de Batman Vs Superman esteve mais do que certa em fazer um filme totalmente para os fãs. Agradar a crítica é, na maioria das vezes, o objetivo principal de produções cinematográficas que adaptam um livro, histórias em quadrinhos, games e outras mídias; agora, fazer um filme para agradar os fãs, pouco se importando com a opinião do pessoal frustrado que não passou na faculdade de cinema e resolveu se dedicar a “especialização” de apontar os maiores erros e mínimos acertos em produções (quis dizer, crítico cinematográfico), consegue ser um trabalho deveras arriscado. Em Batman Vs Superman, podemos identificar esses “presentes” que a Warner/DC resolver deixar para o público, que vai de cenas idênticas, assim como diálogos, ao dos quadrinhos, um sensacional momento de tensão envolvendo Superman e Lex Luthor, cenas de ação dignas, uma fotografia que lembra clássicos momentos de HQs e animações da DC, entre outras coisas que fazem do longa-metragem um filme feito totalmente para fãs. Sim, se Zck Snyder conseguiu captar a essência de Watchmen, transformando a clássica graphic novel numa das melhores adaptações cinematográficas de todos os tempos, o cineasta repete a dose no segundo filme do universo DC cinematográfico.

 Lógico que o filme tem seus erros, como o fato de realmente ter muita história em apenas um longa-metragem, o que não chega a atrapalhar. Porém, o filme, em alguns momentos, pode parecer monótono e confuso para quem não simpatiza com histórias em quadrinhos animações da DC Comics. Até mesmo alguns fãs que não sabem distinguir adaptação de colagem da HQ para o cinema podem reclamar de algumas mudanças de personagens e situações presentes no filme; esse tipo de público insatisfeito com tudo e todos que consegue ficar satisfeito com absolutamente nada e, infelizmente, ajuda a criar a tão famosa geração de haters. Talvez, outro grande defeito do filme seja o 3D, que nada acrescenta, a não ser na cena inicial, durante os créditos de abertura. Nem criticarei o excesso de CGI, pois é compreensível que haja tanto, principalmente durante a batalha final entre a Trindade (Mulher-Maravilha, Superman e Batman) contra Apocalypse.

 E por falar em Trindade, devo começar os comentários sobre alguns dos (muitos) personagens do filme. Primeiramente, como muitos já devem saber, quem rouba a cena é Gal Gadot, interpretando, mesmo de maneira bem breve, mas que não conta apenas como uma simples participação especial, a amazona Diana Prince, a Mulher-Maravilha que deixou todo mundo de queixo caído e que gerou uma explosão de aplausos durante as duas sessões que assisti. Gadot empresta uma personalidade forte e inteligente para Diana, não necessitando dos já batidos apelos “sexuais” para que a personagem chame atenção.  Outro personagem que chamou bastante minha atenção foi Lex Luthor, interpretado pelo animadinho Jesse Einsenberg, que mais parecia uma mistura de Conringa e Charada do que o clássico inimigo do Superman. Porém, a alteração da personalidade do Lex Luthor consegue transformá-lo em um bom vilão e, principalmente, na pela chave para o combate entre Batman e Superman. O filme, por ser sombrio e sério demais, também precisava de um antagonista que fosse “carismático” e, ao mesmo tempo, perigoso e é isso que acontece com o Luthor de Einsenberg. E outro grande destaque do filme é, com certeza, Bem Affleck! Sim, o cara que desgraçou o Homem Sem Medo no cinema acabou criando uma das melhores representações do Homem Morcego na sétima arte. Affleck tem postura, falta de carisma (quando está na pele do herói), porte físico e, diferente dos demais atores que encarnaram o Morcego de Gotham nos cinemas, por conta da roupa pesada, movimentos do Batman. Henry Cavill, apesar da forçada “cara de mau” em algumas cenas, consegue transmitir a autoridade épica de um bom Superman, lembrando muito Christopher Reeve (esse sim o verdadeiro Superman da sétima arte) e, diversas cenas, tanto como Clark Kent quanto o herói alienígena de capa vermelha. Outra grande novidade no elenco é o cultuado ator britânico Jeremy Irons, que interpreta de maneira excelente e sábia o igualmente britânico mordomo Alfred Pennyworth.


 Concluíndo, Zack Snyder, David S. Goyer e Christopher Nolan entregaram um filme no estilo “ame-o ou deixe-o”. Provavelmente, grande parte da crítica especializada, além do público que não costuma manter contato com a mitologia da DC Comics, não irá se simpatizar com o filme, devido a complexidade da história que é mais atraente para quem gosta ou conhece o universo dos quadrinhos da DC; Mas, obviamente chamará atenção pela belíssima fotografia, assim como pela genial trilha sonora de Hans Zimmer e Junkie XL e os efeitos visuais. No mais, Batman Vs Superman: A Origem da Justiça, não é apenas um filme dedicado especialmente para os fãs, mas a prova definitiva de que a DC Comics vem com tudo para expandir seu império também nos cinemas. 

Filme: Batman Vs Superman: A Origem da Justiça (Batman V Superman: Dawn Of Justice)

Direção: Zack Snyder

Duração: 151 minutos

Censura: 12 anos

Nota: 9 de 10