segunda-feira, 3 de março de 2014

RoboCop - Crítica

Ficheiro:RoboCop 2014.jpg
   Faz um bom tempo que não escrevo e publico uma crítica. Infelizmente, o tempo, e talvez até a indisposição, me impediu de deixar uma análise detalhada (?) de uma produção cinematográfica recente. Não ia ao cinema há semanas também e neste período de carnaval resolvi entreter-me um pouco com a boa sétima arte, apesar de ter planejado assistir um filme cujas minhas expectativas praticamente não existiam.

 Vocês devem estar pensando que direi: “mas eu estava enganado”. Bem, para princípio de conversa, estava, de fato, mas não completamente. Minha raiva por remakes já é bem conhecida, creio eu, mas isso não significa que eu não posso engolir ou até mesmo apreciar alguns. Quando se trata da refilmagem de um clássico, porém, ainda mais um que sempre ficará na memória, fico praticamente sem confiança.

 Um remake de RoboCop, um dos filmes de ação e ficção científica mais conhecidos dos anos 80, feito no passado porém na mesma época de um Exterminador do Futuro, não era necessário, para mim. O clássico é um filme, digamos que, único. No longa, dirigido por Paul Verhoeven, o policial Alex Murphy (Peter Weller), após ser baleado violentamente (eis um aspecto que também faz do primeiro RoboCop inesquecível: a violência trash) por uma gangue, é transformado por uma corporação chamada OCP em metade homem e metade máquina para servir à justiça e garantir à cidade de Detroid uma segurança maior.

 A produção de 2014, dirigida pelo cineasta brasileiro José Padilha, visto pelos hollywoodianos como um mestre por ter dirigido Tropa de Elite 1 e 2, tenta seguir a mesma temática do clássico, aproveitando alguns pontos e inovando outros. Diferente do filme de 1987, quando Murphy (agora interpretado por Joel Kinnaman), ao ser gravemente ferido em um atentado à bomba, é praticamente transformado pela Omincorp em máquina, restando apenas alguns de seus órgãos vitais como o corações, pulmões e parte do cérebro, mas parece ainda ter consciência de quem é, expressando emoções que, ao longo do filme, são dominadas pela identidade robótica, mais ou menos o inverso do que ocorre no primeiro longa. No começo de RoboCop de Padilha, é quase percebível uma semelhança a Frankestein, ou até mesmo Homem de Ferro, além da típica relação entre criador e criatura, o que tentou se esforçar ao máximo para funcionar na nova trama, porém não conseguiu fugir dos clichês. 

  O novo filme, ambientado no ano de 2028, aborda os mesmo temas do clássico, isto é, corrupção, autoritarismo, identidade, capitalismo, poder midiático, entre outros, e, por incrível que pareça, todos me pareceram mais explícitos na refilmagem. Padilha já abordou temas semelhantes em Tropa de Elite, talvez tenha sido por isso que a MGM tanto se interessou para contratá-lo para dirigir RoboCop. Em várias passagens do novo filme do diretor carioca, é evidente a incrível semelhança com, principalmente, o segundo Tropa de Elite. Tanto as temáticas (a corrupção policial e política; a influência da mídia na situação em que a cidade se encontra, que é mostrado de maneira realmente ótima com Samuel L. Jackson como âncora de um programa sensacionalista do futuro) quanto os movimentos de câmera usados, já podem ser consideradas marcas registradas de Padilha. O que também ficou interessante foi a melhor exploração dos tantos personagens coadjuvantes, o que pouco acontece no longa de Verhoeven e tal fato fora o principal responsável pela temática do filme ser tão mais explícita, como já disse anteriormente.

  O único porém do maior envolvimento com os temas é o tom mais sério atribuído ao longa. Não há, digamos, muitos atos heroicos no filme, além do excesso de abordagens políticas mais do que o entretenimento que muito esperavam de um novo filme do policial do futuro. Não que a “seriedade” do remake tenha sido algo ruim, pelo contrário, porém não combina com o icônico personagem dos anos 80.

  Claro que vários elementos do primeiro filme, além das temáticas, foram “reaproveitados”, como o tema musical original de Basil Poledouris, o logotipo dos créditos, frases marcantes e a clássica briga entre o RoboCop e o androide ED-209, que no remake são vários; esses dois últimos pontos, porém, não souberam aproveitar de maneira correta: as frases não foram utilizadas em momentos apropriados e a sequência de ação do personagem principal versus os antagonistas mais me deu tontura do que empolgou. Esse é também um elemento em RoboCop de 2014 que não era realmente necessário: o excesso de efeitos visuais computadorizados. Claro, as cenas de ação ficaram excelentes com seus novos efeitos visuais, coisa e tal, mas não emocionantes; logicamente que a equipe jamais utilizaria efeitos em stop-motion, por mais que essa técnica “jurássica” seja incrível e memorável, mas o menor uso de efeitos em CGI cairia melhor. Pelo menos, RoboCop não tem os efeitos absurdos de Man of Steel.

  Temos no filme ótimas atuações e, como já fora dito, uma boa exploração dos personagens. Joel Kinnaman, apesar de não ter lá o jeito descontraído de Peter Weller ao interpretar o detetive Murphy, se sai muito bem a partir do momento que é transformado em máquina. Gary Oldman interpreta o cientista à lá Dr. Frankestein responsável pelo policial máquina e desempenha, como sempre, bem o papel; Samuel L. Jackson dá o melhor de si como apresentador de programa sensacionalista ; talvez o único personagem que merecia uma melhor exploração foi o de Michael Keaton, que interpreta o chefão da OmniCorp. O vilão destaque, porém, ficou com o ator Jackie Earle Haley, que interpreta o estrategista militar responsável pelas armas do RoboCop.

  Concluindo, não creio que esse remake de RoboCop atrairá novos fãs, mas, provavelmente, reconquistará os antigos. Posso dizer que eu estava enganado quando julguei o filme pelo fato de ser um remake antes mesmo de conferi-lo; para uma refilmagem, é um bom filme. Apesar do tamanho feito de Padilha, RoboCop está longe de ser um Tropa de Elite, mas, sem dúvida, é o ponta pé inicial do cineasta para uma carreira promissora em Hollywood.

  Ainda acho que não era necessário o clássico de Paul Verhoeven ganhar uma refilmagem, mas valeu a intenção, assim como o resultado.

RoboCop (RoboCop)
Direção: José Padilha
Produção: Marc Abraham e Eric Newman
Roteiro: Joshua Zetumer, baseado na criação de Edward Neumeier e Michael Miner
Trilha Sonora: Pedro Bromfman
Elenco: Joel Kinnaman, Gary Oldman, Michael Keaton, Samuel L. Jackson, Abbie Cornish, entre outros.
EUA, 2014 – 1h 57 minutos
Nota: 7/10

Nenhum comentário:

Postar um comentário