Em mais uma
infortuna madrugada de insônia, o senhor Arquimedes resolveu andar pela casa na
qual morava sozinho, desde o falecimento de sua esposa, há 2 anos. Quando não
mais quis andar, sentou-se no sofá e ligou a televisão para assistir alguma
coisa que lhe desse sono, porém nem isso o faria dormir. Entediado, com calor e
chateado com aquela madrugada infeliz que não terminava, o velho então fez algo
que nunca gostara de fazer: pegou no armário do corredor uma pesada maleta que
continha diversos álbuns de fotografias antigas.
Arquimedes nunca
foi uma pessoal sentimental, nem mesmo com a velhice. Jamais reparara em fotos,
pois pouco gostava de recordações de seu passado. Talvez, olhar fotografias
antigas lhe traria sono. O velho homem então pegou um álbum empoeirado e
começou a olhar algumas fotografias. Eram imagens que mostravam sua infância,
seus velhos tempos de menino; haviam fotografias em que Arquimedes estava acompanhado
dos primos e coleguinhas da rua em que morava. Retirando outro álbum da maleta,
o ancião reparou fotos extremamente antigas onde estava sozinho em imagens
muito antigas e mal cuidadas que lhe mostravam quando ainda era um bebê.
Arquimedes, ao olhar suas fotos sem companhia, notou uma mancha estranha em uma
delas, era algo parecido com a sombra, ou até mesmo o corpo de um homem
encapuzado, mas aquilo poderia ser um defeito da máquina fotográfica ou
desgaste da imagem que já tinha uma longa idade. Ao olhar atentamente para
outras fotos, o idoso deparou-se com o mesmo suposto defeito: a tal figura
encapuzada muito escura e até mesmo um pouco perturbadora. Em cada foto sua que
via, aquele ser de capuz estava lá! Em uma das imagens, Arquimedes jurou ter
visto seus olhos. O velho começou a char aquilo estranho.
Arquimedes não
estava assustado, ainda. O velho somente não conseguia entender o que era
aquilo, o motivo de nunca tê-lo visto anteriormente e razão pela qual a imagem
aparecia somente nas fotos em que estava desacompanhado. Resolveu então pegar
outro álbum, vasculhou suas fotos e viu a mesma sombra perturbadora. Arquimedes
não havia ainda reparado nas suas fotografias que enfeitavam a sala de estar e
estas, como eram recentes e sempre olhava (mesmo sem querer) quando passava de
uma sala para outra, provavelmente não estavam com a presença de uma figura “fantasmagórica”.
Para comprovar isso, o velho Arquimedes soltou de sua poltrona e foi direto
para o local ondem as imagens estavam enfeitando. Chegando lá, de imediato
percebeu que estava enganado. O idoso começou a ficar assustado quando viu a
imagem muita mais nítida, com semblante misterioso e, talvez, assassino. Notou
também a figura muito mais próxima de sua pessoa, o que o deixou apavorado.
A maldita curiosidade humana não impediu Arquimedes de cometer o maior erro de sua vida. O velho possuía em casa uma câmera digital que quase não usava e decidiu tirar uma fotografia sua para comprovar se aquilo estava realmente acontecendo, Arquimedes sempre fora uma pessoa bastante cética. Ele precisava ter certeza se aquilo não era loucura e em algum lugar de sua mente de quase 80 anos, velha e com alguns problemas, dizia que tirar uma fotografia de si próprio seria a solução. O velho então ligou a pequena câmera foi para o quarto tentar tirar um retrato no espelho, para melhor aparecer sua pessoa.
Posicionando a
câmera da maneira como queria, o idoso bateu uma foto sua e, depois, foi
conferir o resultado. Não havia anormalidades na imagem, nenhuma figura
encapuzada ou algo parecido estavam presentes na fotografia. O velho então teve
consciência de que não havia nada também em suas fotos antigas, que tudo aquilo
poderia ser sua mente envelhecida lhe pregando peças ou até mesmo sono, embora
ainda não estivesse com vontade de ir para a cama. Arquimedes ainda estava de
frente para o espelho e quando se virou para conferir novamente as outras fotos
antigas deparou-se com uma figura cuja imagem não estava refletida no espelho.
O homem de capuz estava bem a sua frente, seu sorriso malicioso era visível,
assim como seus olhos inchados e mortos. O grito de horror do senhor Arquimedes
teria saído se a faca do encapuzado não tivesse lhe cortado a garganta e
perfurado o crânio, tirando-lhe a oportunidade de pedir socorro pela vida que
já não existia mais.
Abandonando o
corpo do velho Arquimedes no local de seu assassinato e colocando a faca do crime
em suas mãos mortas (os vizinhos acreditariam na possibilidade de suicídio de um velho solitário e ranzinza), o encapuzado simplesmente desapareceu. A casa ficou
silenciosa, assim como o resto da vizinhança que não costumava madrugar.
Arquimedes havia deixado todas as fotografias antigas bagunçadas sobre a mesa
da sala de jantar, inclusive uma que mostrava seu filho mais velho recém-nascido
desacompanhado, sentado no carrinho de bebê e ao lado uma manchinha preta que
mais parecia um homem de capuz.
SENSACIONAL! ADOREI!
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