Michael e Henry eram
rapazes extremamente corteses, filhos de uma influente e simpática família, porém
tímidos e pouco sociáveis. Não frequentavam festas ou bailes da alta sociedade,
não saiam com damas ou senhoritas de família, queriam saber “apenas” de viver,
apesar de isso não agradar muito aos pais. Henry veio ao mundo poucos minutos
depois de Michael e acreditava que esse fato lhe proporcionara uma vontade de
viver intensamente para compensar os minutos perdidos que passara no ventre de
sua mãe. Ninguém jamais imaginaria que aquele rapaz alegre, gentil e tímido ao
mesmo tempo, e cheio de vida pudesse tirar a própria vida. Porém, antes de
Henry partir, tanto Michael quanto os demais familiares notaram certa
estranheza no garoto; o rapaz aparentava-se não estar mais dentro de si, vivia
olhando para o leste e passava a maior parte do tempo admirando o oceano, com
um olhar de aluado. Henry também estava falando muito de uma garota de longos
cabelos castanhos claros que via todas as noites caminhando na praia, perto do
mar; ele não fazia ideia de quem era e ninguém além do rapaz jamais havia vista
tal senhorita caminhante. Segundo o garoto, a moça emitia um belo som em forma
de canto, ao ver que estava sendo observada.
Michael jamais entendeu aquilo. Por que seu irmão estava tão
obcecado por uma mulher (que provavelmente não existia) sendo que ele jamais
falara com uma, a não ser membro da família? Os dois irmãos jamais estiveram
apaixonados por alguma garota e pouco entendiam das relações entre homem e
mulher; porém, apesar da extrema timidez, Henry estava realmente interessado em
saber mais sobre a moça que via caminhar todas as noites na praia. Saiu pela
cidade perguntando sobre uma jovem de pele branca, cabelos castanho claro
(quase avermelhados), vestido de peculiar coloração verde e que gostava de
caminhar na praia durante a noite. Ninguém soube responder. A moça era uma
desconhecida, fato que deixou os mais próximos a Henry desconfiados de sua
sanidade mental. O garoto, porém, sabia que ela existia. Pouco tempo depois, em
uma manhã nublada de maré cheia, seu corpo foi encontrado.
Quando sua depressão
chegou ao máximo, Michael não mais saia de casa. Passava o dia no quarto que
dividia com seu irmão e lutava contra a própria mente para descobrir o que
ocasionara a morte deste, sem falar na tentativa de encontrar uma explicativa
para as visões do falecido. Não acreditava que seu irmão teria ficado louco, ou
pior, não queria acreditar, pois, talvez, aquela fosse a infeliz verdade.
Uma noite, aproximadamente
às 23:00, quando todos da residência estavam dormindo e mais nada podia-se
ouvir além do agradável barulho das ondas do mar, Michael despertou de um breve
sono e não mais conseguiu dormir. Levantou-se da cama, vestiu um casaco,
sentou-se na escrivaninha de madeira, pegou um pedaço de pergaminho e pena e
pôs-se a escrever seu diário noturno. De repente, o garoto escutou um som
agradável, mas estranho, vindo do lado de fora da casa. Quando se aproximou da
janela para ver o que havia emitido aquele som, Michael não pôde acreditar: Lá
estava a tal garota que hora era fruto da imaginação de seu falecido gêmeo. Os
cabelos castanhos, a aparência jovem e delicada e a voz daquela senhorita logo
encantaram também os olhos e a mente daquele pobre rapaz.
Logo, Michael também se obcecou por aquela bela moça que sempre cantava-lhe uma música sobre um velho pirata que havia perdido seu único e verdadeiro amor e não era um navio cheio de ouro e rum, mas sua esposa. Todas as noites, o pobre rapaz era seduzido por aquela criatura humana que passava lá por perto e sua timidez, assim como a de seu irmão, o impossibilitava de descer e falar com ela. Com o passar dos dias, porém, sua obsessão tornou-se maior, chegando ao ponto de ficar completamente alucinado pela garota.
Logo, Michael também se obcecou por aquela bela moça que sempre cantava-lhe uma música sobre um velho pirata que havia perdido seu único e verdadeiro amor e não era um navio cheio de ouro e rum, mas sua esposa. Todas as noites, o pobre rapaz era seduzido por aquela criatura humana que passava lá por perto e sua timidez, assim como a de seu irmão, o impossibilitava de descer e falar com ela. Com o passar dos dias, porém, sua obsessão tornou-se maior, chegando ao ponto de ficar completamente alucinado pela garota.
Quando uma noite de
Lua cheia e maré alta caiu, Michael estava parado, em frente a janela de seu
quarto, esperando a misteriosa garota surgir do nada e cantar-lhe mais uma
canção. Quando ela finalmente surgiu do meio do oceano, o rapaz pôde perceber o
que ela realmente era: Uma criatura do mar, meio humana, meio peixe... uma sereia!
Michael não ficou assustado quando viu a barbatana verde da moça transformar-se
em pernas, ao chegar à praia, porém ainda maravilhado ao extremo. Ao olhar
aquela belíssima criatura iniciar seu canto, o rapaz, que já não tinha mais o
controle sobre si, aproximou-se cada vez mais da janela aberta, para enfim
encontrar-se com a senhorita. Não percebeu ele que tal ato lhe proporcionaria
uma queda de 5 andares, resultando em uma morte semelhante da que seu irmão
gêmeo tivera. Quando a música ficou mais alta e a aproximação de Michael para a
morte certa maior, felizmente, ouviu-se o som do sinal de um navio que lá perto
desembarcava. O soar do sino da embarcação fizera Michael acordar e a sereia
pular de volta para o oceano, assustada.
Continua...
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