quinta-feira, 31 de julho de 2014

Planeta dos Macacos - O Confronto: Crítica

 A nova onda dos prelúdios (que, para falar a verdade, não é mais tão nova) de clássicos do cinema está aumentando cada vez mais, porém não ao ponto de causar um tsunami e com isso deixar os filmes anteriores nas profundezas do esquecimento. Produções antológicas da história do cinema continuam bastante frescas na memória de muita gente, mesmo essas tendo prelúdios e remakes, ora necessários e bem feitos ora desnecessários e completamente dispensáveis.
 Posso afirmar, sem exageros cinéfilos de minha pessoa, que, em 2011, os fãs da franquia “Planeta dos Macacos”, que teve início com o longa-metragem de Franklin J. Schaffner em 1968, foram presenteados com Planeta dos Macacos – A Origem (Rise of the Planet of the Apes), prelúdio do diretor Rupert Wyatt que serviu como “base” para os filmes da franquia original, pondo a tentativa frustrada de Tim Burton de fazer um remake (em 2001) no total esquecimento, felizmente.  Se A Origem mostrou apenas os primórdios da história dos símios de inteligência sobre humana, porém de forma bastante envolvente e prezando o desenvolvimento da história a partir do personagem César (o chimpanzé líder de uma revolução,  interpretado por ninguém menos que o lendário Andy Serkis), logicamente que o segundo filme mostraria um certo “avanço” na já conhecida história, isto é, mostrando como finalmente os humanos foram escravizados pelos símios e a evolução destes para um estágio mais avançado. Porém, felizmente, não é bem isso que vemos em O Planeta dos Macacos – Confronto (Dawn of the Planet of the Apes).

 Quem estiver se pergunto por que diabos escrevi “felizmente”, deve entender que a expressão foi utilizada por realmente fazer jus ao que, não só eu, como muitas outras pessoas que gostam da franquia Planeta dos Macacos e fortemente apoiam o estrondoso sucesso dos prelúdios, devem ter sentido ao ver que o segundo filme não cometeu o erro de explicar tudo ao mesmo tempo, deixando espaço para os outros filmes da série e, com isso, explorando cada vez mais o processo de evolução dos macacos, fórmula que foi claramente usada em Planeta dos Macacos – O Confronto e fez o filme se diferenciar dos demais.

  No filme, agora dirigido por Matt Reeves (Cloverfield), ambientado aproximadamente 10 anos após os acontecimentos de A Origem, mostra a humanidade à beira da extinção devido à gripe símia originada da droga criada para combater o Alzheimmer, no primeiro longa. Em um tenebroso cenário pós-apocalíptico, duas sociedades vivem: uma lutando pela sobrevivência (humanos), outra pela evolução (macacos). Enquanto os macacos vivem em uma colônia, agora mais inteligentes e comunicativos uns com os outros, tendo César (Serkis) como líder, os humanos que sobreviveram à quase extinção estão reunidos nas ruínas de São Francisco; quando os dois mundos acidentalmente se encontram, evitar uma guerra é tudo que macacos e humanos querem, porém há quem discorde da ideia de paz.

  Claro que, através de uma simples sinopse, muitos devem considerar que o novo Planeta dos Macacos não poupa o clássico clichê de dois grupos que convivem pacificamente até algo dar errado e, com isso, uma batalha ser travada. Sim, realmente tal clichê está presente no filme; porém, da forma que vejo, era inevitável a presença dessa temática no filme, pois, caso contrário, ocasionaria justamente o que eu anteriormente disse: um excesso de acontecimentos quando ainda há muito que ser explorado nos próximos longas da série. Há quem acredite que o filme perdeu muito tempo ao focar no cotidiano nos macacos, que, de fato, é bastante explorado principalmente nas cenas iniciais do longa, desde a tradicional caça presente em filmes do Planeta dos Macacos (dessa vez, para caçar antílopes) até o momento do ataque; não há, porém, motivos para reclamar de um fato que, por incrível que pareça, conseguiu ser novo nos filmes da franquia tanto antiga quanto nova. Nunca vimos o cotidiano dos macacos como é apresentado em O Confronto, principalmente levando em conta que estes estão cada vez mais alcançando um elevado estágio de evolução, compartilhando seus conhecimentos com os mais jovens e protegendo a fortaleza por eles construída. A vida dos símios à lá National Geographic (quem dera o Big Brother explorasse criaturas inteligentes) foi bem idealizada e desenvolvida ao longo do filme. Vimos o comportamento da macacada em A Origem ser brevemente explorado, o que deixou muita gente de queixo caído devido à técnica usada para a criação e desenvolvimento das criaturas; ao longo do primeiro filme, porém, mal demos conta de que os macacos são criados digitalmente, pois a naturalidade, não apenas dos movimentos, mas das expressões, mostrando que os personagens criados digitalmente têm mais emoções que os humanos, é simplesmente notável e, assim, admirável.

 Em O Planeta dos Macacos – O Confroto, a técnica de captura de movimentos é repetida, sendo percebível um incrível avanço na mencionada naturalidade, que já era bem feita há 3 anos. Agora, os personagens criados digitalmente são tão reais que é impossível perceber que todas as criaturas são computadorizadas. Mais uma vez, os macacos demonstram mais sentimentos e simpatia com o público do que os personagens humanos. Falar que Andy Serkis está novamente brilhante como César já é tão clichê quanto repetir que o ator (que também deu vida a outros icônicos personagens, como Gollum, King King e Capitão Haddock) merece pelo menos uma indicação ao Oscar ou ao Globo de Ouro por seus trabalhos; o destaque para o novo filme também vai para o personagem antagonista, Koba, macaco vítima de experiências em laboratório no primeiro filme, que ainda guarda enorme rancor pelas cicatrizes deixadas pelos humanos. Interpretado por Toby Kebbell, Koba, assim como a maioria dos macacos do filme, demonstra um avanço evolutivo que o permite raciocinar e falar, porém suas habilidades são usadas a favor de seu desejo de por um fim definitivo a espécie humana e tirar César do poder, por acreditar que seu representante “ama mais humanos do que macacos”. A revelação do personagem como o grande vilão da trama chega a ser surpreendente e até arrepiante, mostrando que Koba foi o primeiro de muitos símios a dar dor de cabeça aos humanos e o precursor da guerra que ocasionou a morte da maioria destes. Além do protagonista e do antagonista, também estão no filme o orangotango Maurice (clara referência ao personagem de Maurice Evans, o Dr. Zaius, no filme de 1968), cujos movimentos e expressões são dados pela atriz Karin Konoval, que, assim como os macacos de sua espécie no clássico de J. Schaffner, é responsável pela educação do grupo e o chimpanzé Rocket, interpretado por Terry Notary; há também novos símios na história, como Olhos Azuis (referência ao apelido dado ao personagem de Charlton Heston), o filho adolescente de César interpretado por Nick Thurston que não sabe qual caminho seguir.

  No lado dos humanos, temos o grupo de refugiados na cidade de San Francisco que lutam para não contrair o vírus da gripe símia e fazem de tudo (ou o possível) para evitar um conflito com a raça que está em maioria. Mesmo possuindo bastantes armas, os humanos necessitam de energia para se comunicar com o mundo exterior e pedir apoio militar, caso aconteça uma rebelião por parte dos macacos. A história conta com um grupo, não mais carismático que os símios, porém persistente, composto principalmente pelos personagens de Gary Oldman e Jason Clarke. Oldman interpreta o líder do clã dos humanos, cuja relação com o vírus é deveras marcante para o seu personagem; apesar de um papel pequeno, o ator consegue desempenhar bem seu trabalho, principalmente nos momentos finais, quando o público vê um Gary Oldman dando o melhor de si, ainda que de forma breve. Clarke faz o típico papel do homem enviado pelos humanos para tentar comunicar-se com a outra espécie, personagens que quase sempre vemos em filmes de ficção científica; este, porém, diferencia-se dos demais justamente devida os laços que são criados entre Malcoln (personagem de Clarke) e Cesar, que consegue ser bem mais interessante que a relação do protagonista primata com James Franco, no primeiro filme. Vale lembrar que o tom melancólico presente no filme, devido a confiança de Malcon em Cesar e vice-versa, resulta em um pequeno, porém grandioso diálogo ao final do longa, a respeito da necessidade de haver finalmente uma guerra.

  Se em Cloverfield – Monstro Matt Reeves conseguiu surpreender o público, pode apostar que todo o talento do diretor em ficção-científica se repete e com aprimoramentos. Outro grande ponto positivo em Planeta dos Macacos – O Confronto é a direção de arte, cuja construção dos cenários pós-apocalípticos e da fortaleza dos macacos, se aproximando do visual rústico dos filmes antigos da série. A fotografia também é bela, principalmente nas cenas noturnas, como as do primeiro ataque dos macacos contra os humanos, onde a iluminação vem do fogo. Infelizmente, a trilha sonora de Michael Giacchino, um dos atuais mestres das trilhas de cinema, deixou a desejar; Giacchino poderia ter incluído elementos da clássica trilha do filme de 1968, misturados com seu talento original, para dar mais “alma” à atmosfera apocalíptica do novo longa-metragem.


  Muitos podem considerar a Planeta dos Macacos – O Confronto apenas um filme introdutivo, assim como o primeiro, do que ainda está por vir, sendo realmente esta a proposta do longa de Matt Reeves. Como já falei, o filme abre extensas portas para novas explorações em futuras sequências, que, com certeza, serão lançadas daqui a poucos anos. Em conclusão, posso afirmar, sem exageros, que Reeves presenteou os fãs da série Planeta dos Macacos com outro grande prelúdio que nos deixa com gostinho de “quero mais”, pois, segundo Cesar, “a guerra começou!”. 


Planeta dos Macacos - O Confronto (Dawn of the Planet of the Apes)

Direção: Matt Reeves
Produção: Peter Chernin, Dylan Clark, Rick Jaffa e Amanda Silver
Roteiro: Rick Jaffa, Amanda Silver, Scott Z. Burns e Mark Bomback (Baseado em “La planète des singes“ de Pierre Boulle)
Trilha Sonora: Michael Giacchino
Elenco: Andy Serkis, Gary Oldman, Jason Clarke, Kodi Smit-McPhee, Keri Russell, Judy Greer, Toby Kebbell, entre outros.
EUA, 2014 - 2h 10 minutos

Nota: 8,5

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