E mais uma vez, a Marvel Studios decide fazer uma aposta de extremo risco no ora jogo
de sorte, ora jogo de azar, chamado adaptações cinematográficas. Na verdade,
apesar de já ter adquirido resultados negativos por parte da crítica, o estúdio
nunca saiu com prejuízos financeiros. Como podemos classificar essa sorte que
tem o estúdio da Marvel? Em 2008, foi lançado o primeiro longa-metragem da
casa, o que preocupava a produção e o mercado do cinema por ser o filme de
herói que poucos conheciam, que considero uma aposta de risco tão grande quanto
a que aconteceu nos anos 30, quando Walt Disney decidiu investir tudo que tinha
no primeiro longa-metragem de animação, Branca de Neve e os Sete Anões, ou até
mesmo à certeza de George Lucas e da Fox de que Star Wars seria um fracasso e a
gigantesca surpresa após o lançamento do filme. Homem de Ferro foi, de fato, a
aposta definitiva da Marvel para expandir seu universo na sétima arte o que,
creio que nem precisa argumentar, deu mais do que certo, até a ideia de levar os
Guardiões
da Galáxia das páginas para as telas.
Não é
novidade que poucos conheçam a história dos Guardiões. Até mesmo uma boa parte
dos fãs de carteira do Universo Marvel podem não saber muito a respeito dos
heróis que apareceram pela primeira vez em 1969, com mais sucesso nos anos 70 e
80. Infelizmente, pouco é explorado dos Guardiões. Há uma certa carência de
divulgação da equipe em séries de televisão, desenhos animados, jogos entre
outras mídias. Até mesmo o Homem de Ferro já possuía um pouco de influência
antes do lançamento de seu filme, o que tornou a ideia de adaptar Guardiões da
Galáxia logo para os cinemas algo preocupante.
Porém, apesar de alguns pesares cometidos pelo estúdio, na Marvel,
confiamos! Talvez, com o lançamento do novo filme, a Marvel Studios tenha
realizado sua maior façanha em seus 6 anos de existência e não preciso uma
carta na manga pra realizar tal privilégio, mas de estratégia e, sobretudo,
talento.
No
longa-metragem, que segue a história da nova formação do grupo nos quadrinhos,
Peter Quill (Chris Pratt) é um terráqueo que, quando criança, foi abduzido por
alienígenas e passou a viver através do universo. Quando adulto, torna-se um
fora da lei, saqueador de preciosidades, adotando o nome de Senhor das Estrelas
(Star Lord), que ao encontrar uma esfera cobiçada pelo Kree Ronan, O Acusador
(Lee Pace), se encontra numa enrascada quando descobre que o vilão está atrás
do objeto e quando seu destino se cruza com os desajustados Rocket Ranccoon
(Bradley Cooper), um guaxinim geneticamente modificado, Groot (Vin Diesel), um
alienígena humanoide com aparência vegetal, Gamora (Zöe Saldana), uma
misteriosa e fatal assassina e Drax, O Destruidor (Dave Bautista), alienígena
de vocabulário extremamente educado e formal que está à procura de vingança.
Juntos, o grupo decide descobrir mais sobre o objeto roubado por Quill e,
quando percebem o poder catastrófico da esfera, entendem o porquê de Ronan
estar tão interessado.
A princípio,
a história parece bem simples, sem grandes reviravoltas ou elementos que tirem
o roteiro do previsível. De fato, esse foi um dos pecados cometidos pelo filme
dos Guardiões da Galáxia, mas, não acho que o longa-metragem de origem de
personagens que grande parte do público não conhece precisasse de uma história
100% inteligente, até pelo fato de ser o primeiro filme de, provavelmente,
muitos. A história dos Guardiões da Galáxia é bastante extensa nos quadrinhos.
Com o lançamento do filme (e, com isso, o reconhecimento dos heróis), o público
espera ter o que ver nos próximos filmes; portanto, a ideia de começar o
primeiro longa com as ideias mais simples, apesar de incomodar um pouco a quem
desejava um enredo mirabolante, funciona. O que pode não convencer, para os
poucos que acompanham as histórias dos Guardiões, é o fato da história do pai
de Peter Quill e o porquê do protagonista ter sido abduzido por alienígenas,
que estão interligados, não estar presente no filme, mas, sem dúvida, será
utilizado como trama (ou sub trama) da sequência.
Na verdade, o
que menos importa em Guardiões da Galáxia é um enredo
inteligente, quando se tem em mãos uma ideia de fazer com que o público ame
mais os personagens. O que torna o filme uma das maiores produções da Marvel
Studios é justamente o fato dele possuir o melhor desenvolvimento de
personagens em adaptações de HQs para o cinema. Assim que os créditos de início
do filme surgem, em uma cena já memorável de Quill acompanhando a música “Come
and get love” (Redborn) enquanto saqueia um lugar abandonado e “brinca” com
alienígenas que se parecem pequenos lagartos. Assim, quando nos deparamos com
as cenas iniciais, já temos uma noção do quanto o filme será divertido, o que é
fato. A descontração presente no longa é diferente de qualquer filme da Marvel
já produzido, além de também ser original por contar, finalmente, com outro
Universo, deixando um pouco de lado (por enquanto) os Vingadores. Aí que entra
o motivo que fez com que a Marvel tirasse os Guardiões do esquecimento,
relançando nos quadrinhos e criando uma saga para os cinemas: a expansão do
Universo. De fato, há muito que ser explorado e o primeiro filme, apesar da
pressa, já mostra alguns easter-eggs que vários fãs devem gostar. Voltando ao
ponto de início do parágrafo, o sucesso de Guardiões da Galáxia se dá pelos
personagens; todos possuem suas características próprias e têm ótimos momentos,
incluindo secundários como o ladrão interestelar Yondu Udonta, cuja interpretação
de Michael Rooker (The Walking Dead) se encaixou perfeitamente, e a vilã
Nebulosa (Karen Gillan) que possui uma pequena, porém ótima participação no
primeiro filme, mas tudo indica que a personagem retornará na sequência, ao
lado de um certo inimigo que simplesmente uma das maiores ameaças do universo
Marvel, que pode ser visto na cena pós-créditos de Os Vingadores e numa pequena
participação surpresa em Guardiões. Infelizmente, não pode ser dita muita coisa
a respeito do vilão, Ronan, pelo fato deste estar mais caricato do que
vilanesco; um grande personagem como esse devia ser, ao menos, tratado com o
mesmo respeito que foi dado a Loki.
Outro grande
ponto forte do filme é, com certeza, as cenas de ação repletas de momentos que
já podem ser considerados épicos como, por exemplo, a fuga da prisão bolada por
Rocket, que mostra o grupo trabalhando em conjunto pela primeira vez, numa
sequência que arranca tanto fôlego quanto boas risadas. O visual dos seres intergalácticos
está muito bem desenvolvido e detalhado, assim como os belos cenários e designs
de aeronaves, armas e roupas. Talvez o maior trabalho computadorizado do filme
seja a captação de movimentos de Bradley Cooper e Vin Diesel para dar vida aos
dois personagens mais queridos do longa: Rocket e Groot, respectivamente; nas
telas, a dupla funciona tão bem, e tão perfeitamente (falando de maneira estética),
que nem nos damos conta de que os personagens foram criados pelo computador.
Sem dúvida, Diesel conseguiu o melhor papel de sua carreira, pois tanto suas
expressões faciais quanto a única frase por ele pronunciada diversas vezes (“Eu
sou Groot”) roubam inteiramente a cena. As cenas de ação são bonitas e bem
dosadas, sem grandes exageros cometidos por filmes anteriores, mas isso não
significa que o longa deixa de ter cenas de ação “padrão filmes Marvel”; o
clichê, que já era de se esperar, não chega a ser 100% percebível.
Guardiões da
Galáxia, a maior aposta de risco da Marvel, é, sem dúvida, uma das melhores
adaptações HQs de super-heróis para os cinemas por capturar a essência presente
nos quadrinhos e adaptá-la às telas não de uma maneira realista, com inúmeras
reviravoltas mirabolantes no roteiro que podem ficar confusas, mas descontraída
e, acima de tudo, fantasiosamente divertida, agradando, assim, até mesmo quem
conhece pouco ou nada da história adaptada. Em outras palavras, o diretor James
Gunn, conhecido pelo filme Super, deu uma aula de como fazer
uma boa adaptação, nos presenteando com o filme. Esperamos ansiosamente o
retorno desse grupo intergaláctico aos cinemas em breve, com mais diversão,
músicas marcantes dos anos 70 e 80, referências à cultura pop (terráquea), ação
e frases marcantes do Groot.
Guardiões
da Galáxia (Guardians of the Galaxy)
Direção: James Gunn
Produção: Kevn Feige
Roteiro: James Gunn, baseado em “Guardiões da
Galáxia”, de Dan Abnett e Andy Lanning
Trilha Sonora: Tyler Bates
Elenco: Chris
Pratt, Zoe Saldana, Dave Bautista, Vin Diesel, Bradley Cooper, Lee Pace, Michael
Rooker, Karen Gillan, Djimon Hounsou, John C. Reilly, Glenn Close, Benicio Del
Toro, entre outros.
EUA, 2014 – 2h 4
minutos
Nota: 8
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