sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Guardiões da Galáxia - Crítica

 E mais uma vez, a Marvel Studios decide fazer uma aposta de extremo risco no ora jogo de sorte, ora jogo de azar, chamado adaptações cinematográficas. Na verdade, apesar de já ter adquirido resultados negativos por parte da crítica, o estúdio nunca saiu com prejuízos financeiros. Como podemos classificar essa sorte que tem o estúdio da Marvel? Em 2008, foi lançado o primeiro longa-metragem da casa, o que preocupava a produção e o mercado do cinema por ser o filme de herói que poucos conheciam, que considero uma aposta de risco tão grande quanto a que aconteceu nos anos 30, quando Walt Disney decidiu investir tudo que tinha no primeiro longa-metragem de animação, Branca de Neve e os Sete Anões, ou até mesmo à certeza de George Lucas e da Fox de que Star Wars seria um fracasso e a gigantesca surpresa após o lançamento do filme. Homem de Ferro foi, de fato, a aposta definitiva da Marvel para expandir seu universo na sétima arte o que, creio que nem precisa argumentar, deu mais do que certo, até a ideia de levar os Guardiões da Galáxia das páginas para as telas.
 Não é novidade que poucos conheçam a história dos Guardiões. Até mesmo uma boa parte dos fãs de carteira do Universo Marvel podem não saber muito a respeito dos heróis que apareceram pela primeira vez em 1969, com mais sucesso nos anos 70 e 80. Infelizmente, pouco é explorado dos Guardiões. Há uma certa carência de divulgação da equipe em séries de televisão, desenhos animados, jogos entre outras mídias. Até mesmo o Homem de Ferro já possuía um pouco de influência antes do lançamento de seu filme, o que tornou a ideia de adaptar Guardiões da Galáxia logo para os cinemas algo preocupante.  Porém, apesar de alguns pesares cometidos pelo estúdio, na Marvel, confiamos! Talvez, com o lançamento do novo filme, a Marvel Studios tenha realizado sua maior façanha em seus 6 anos de existência e não preciso uma carta na manga pra realizar tal privilégio, mas de estratégia e, sobretudo, talento.

  No longa-metragem, que segue a história da nova formação do grupo nos quadrinhos, Peter Quill (Chris Pratt) é um terráqueo que, quando criança, foi abduzido por alienígenas e passou a viver através do universo. Quando adulto, torna-se um fora da lei, saqueador de preciosidades, adotando o nome de Senhor das Estrelas (Star Lord), que ao encontrar uma esfera cobiçada pelo Kree Ronan, O Acusador (Lee Pace), se encontra numa enrascada quando descobre que o vilão está atrás do objeto e quando seu destino se cruza com os desajustados Rocket Ranccoon (Bradley Cooper), um guaxinim geneticamente modificado, Groot (Vin Diesel), um alienígena humanoide com aparência vegetal, Gamora (Zöe Saldana), uma misteriosa e fatal assassina e Drax, O Destruidor (Dave Bautista), alienígena de vocabulário extremamente educado e formal que está à procura de vingança. Juntos, o grupo decide descobrir mais sobre o objeto roubado por Quill e, quando percebem o poder catastrófico da esfera, entendem o porquê de Ronan estar tão interessado.

 A princípio, a história parece bem simples, sem grandes reviravoltas ou elementos que tirem o roteiro do previsível. De fato, esse foi um dos pecados cometidos pelo filme dos Guardiões da Galáxia, mas, não acho que o longa-metragem de origem de personagens que grande parte do público não conhece precisasse de uma história 100% inteligente, até pelo fato de ser o primeiro filme de, provavelmente, muitos. A história dos Guardiões da Galáxia é bastante extensa nos quadrinhos. Com o lançamento do filme (e, com isso, o reconhecimento dos heróis), o público espera ter o que ver nos próximos filmes; portanto, a ideia de começar o primeiro longa com as ideias mais simples, apesar de incomodar um pouco a quem desejava um enredo mirabolante, funciona. O que pode não convencer, para os poucos que acompanham as histórias dos Guardiões, é o fato da história do pai de Peter Quill e o porquê do protagonista ter sido abduzido por alienígenas, que estão interligados, não estar presente no filme, mas, sem dúvida, será utilizado como trama (ou sub trama) da sequência.

 Na verdade, o que menos importa em Guardiões da Galáxia é um enredo inteligente, quando se tem em mãos uma ideia de fazer com que o público ame mais os personagens. O que torna o filme uma das maiores produções da Marvel Studios é justamente o fato dele possuir o melhor desenvolvimento de personagens em adaptações de HQs para o cinema. Assim que os créditos de início do filme surgem, em uma cena já memorável de Quill acompanhando a música “Come and get love” (Redborn) enquanto saqueia um lugar abandonado e “brinca” com alienígenas que se parecem pequenos lagartos. Assim, quando nos deparamos com as cenas iniciais, já temos uma noção do quanto o filme será divertido, o que é fato. A descontração presente no longa é diferente de qualquer filme da Marvel já produzido, além de também ser original por contar, finalmente, com outro Universo, deixando um pouco de lado (por enquanto) os Vingadores. Aí que entra o motivo que fez com que a Marvel tirasse os Guardiões do esquecimento, relançando nos quadrinhos e criando uma saga para os cinemas: a expansão do Universo. De fato, há muito que ser explorado e o primeiro filme, apesar da pressa, já mostra alguns easter-eggs que vários fãs devem gostar. Voltando ao ponto de início do parágrafo, o sucesso de Guardiões da Galáxia se dá pelos personagens; todos possuem suas características próprias e têm ótimos momentos, incluindo secundários como o ladrão interestelar Yondu Udonta, cuja interpretação de Michael Rooker (The Walking Dead) se encaixou perfeitamente, e a vilã Nebulosa (Karen Gillan) que possui uma pequena, porém ótima participação no primeiro filme, mas tudo indica que a personagem retornará na sequência, ao lado de um certo inimigo que simplesmente uma das maiores ameaças do universo Marvel, que pode ser visto na cena pós-créditos de Os Vingadores e numa pequena participação surpresa em Guardiões. Infelizmente, não pode ser dita muita coisa a respeito do vilão, Ronan, pelo fato deste estar mais caricato do que vilanesco; um grande personagem como esse devia ser, ao menos, tratado com o mesmo respeito que foi dado a Loki.

  Outro grande ponto forte do filme é, com certeza, as cenas de ação repletas de momentos que já podem ser considerados épicos como, por exemplo, a fuga da prisão bolada por Rocket, que mostra o grupo trabalhando em conjunto pela primeira vez, numa sequência que arranca tanto fôlego quanto boas risadas. O visual dos seres intergalácticos está muito bem desenvolvido e detalhado, assim como os belos cenários e designs de aeronaves, armas e roupas. Talvez o maior trabalho computadorizado do filme seja a captação de movimentos de Bradley Cooper e Vin Diesel para dar vida aos dois personagens mais queridos do longa: Rocket e Groot, respectivamente; nas telas, a dupla funciona tão bem, e tão perfeitamente (falando de maneira estética), que nem nos damos conta de que os personagens foram criados pelo computador. Sem dúvida, Diesel conseguiu o melhor papel de sua carreira, pois tanto suas expressões faciais quanto a única frase por ele pronunciada diversas vezes (“Eu sou Groot”) roubam inteiramente a cena. As cenas de ação são bonitas e bem dosadas, sem grandes exageros cometidos por filmes anteriores, mas isso não significa que o longa deixa de ter cenas de ação “padrão filmes Marvel”; o clichê, que já era de se esperar, não chega a ser 100% percebível.

  Guardiões da Galáxia, a maior aposta de risco da Marvel, é, sem dúvida, uma das melhores adaptações HQs de super-heróis para os cinemas por capturar a essência presente nos quadrinhos e adaptá-la às telas não de uma maneira realista, com inúmeras reviravoltas mirabolantes no roteiro que podem ficar confusas, mas descontraída e, acima de tudo, fantasiosamente divertida, agradando, assim, até mesmo quem conhece pouco ou nada da história adaptada. Em outras palavras, o diretor James Gunn, conhecido pelo filme Super, deu uma aula de como fazer uma boa adaptação, nos presenteando com o filme. Esperamos ansiosamente o retorno desse grupo intergaláctico aos cinemas em breve, com mais diversão, músicas marcantes dos anos 70 e 80, referências à cultura pop (terráquea), ação e frases marcantes do Groot.


Guardiões da Galáxia (Guardians of the Galaxy)

Direção: James Gunn
Produção: Kevn Feige
Roteiro: James Gunn, baseado em “Guardiões da Galáxia”, de Dan Abnett e Andy Lanning
Trilha Sonora: Tyler Bates
Elenco: Chris Pratt, Zoe Saldana, Dave Bautista, Vin Diesel, Bradley Cooper, Lee Pace, Michael Rooker, Karen Gillan, Djimon Hounsou, John C. Reilly, Glenn Close, Benicio Del Toro, entre outros.
EUA, 2014 – 2h 4 minutos


Nota: 8

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