2014 foi realmente grandioso para o cinema de animação. No
primeiro mês do ano, fomos presenteados com o criativo e divertidíssimo “Uma
Aventura Lego” (minha aposta para o Oscar de Melhor Filme de Animação); depois,
choramos e nos emocionamos com “Como Treinar O Seu Dragão 2”, prova definitiva
de que uma sequência, quando bem realizada, pode superar seu antecessor; em
seguida, nos surpreendemos com os estranhos e divertidos “Os Boxtrolls” e “Festa
no Céu”; e, no final do ano, esperávamos que uma tal animação anunciada pela
Disney fechasse o ano de 2014 com chave de ouro, o que, de fato, aconteceu
perfeitamente.
Operação Big Hero (Big Hero 6) é o primeiro longa-metragem
animado da Disney/Marvel após a bilionária compra do estúdio sobre a famosa
companhia de entretenimento. Baseado nas HQs criadas por Steven T. Seagle e Duncan
Rouleau, em 1998, o filme mostra uma futurista cidade fictícia de San
Fransóquio (uma mistura de San Francisco com Tóquio) onde Hiro Hamada, um jovem
de 14 anos especialista em engenharia robótica, usa seus dons para criar
máquinas em lutas ilegais de robôs, até seu irmão mais velho, Tadashi,
convencê-lo a entrar na Universidade para construir um futuro melhor. Quando
Hiro apresenta um bem sucedido projeto de “micro-robôs” que se movem através de
um neurotransmissor também criado pelo garoto, este é finalmente aceito na
instituição; mas, após um misterioso incêndio que mudará para sempre sua vida,
cabe a Hiro, Baymax (robô médico criado pelo seu irmão) e seus amigos “nerds” acertarem
as contas com o responsável.
Mais uma vez, a
Disney explora a relação fraternal em uma animação. Em Frozen – Uma Aventura
Congelante, vimos um confronto existente entre as irmãs Elsa e Anna ser
consertado pelo amor das duas. Não muito diferente do filme das princesas,
Operação Big Hero aborda a relação entre irmãos como tema principal, porém de
uma maneira totalmente diferente do primeiro filme citado. A adaptação da HQ da
Marvel tem uma melhor profundidade no assunto, uma vez que o filme é destinado
a um público mais maduro do que Frozen, por se tratar de perda, fúria, saudade
e, como é de se esperar de um filme da “New-Disney”, uma forma de amor inusitada.
É da perda de Hiro
que surge sua amizade com o robô Baymax. O personagem, como já fora citado antes, é um
tipo de robô enfermeiro, que consegue diagnosticar tanto dores físicas quanto
emocionais de seres humanos. O curioso design de Baymax (que nos quadrinhos a
Marvel é uma espécie de monstro verde) se distancia de androides já conhecidos
como os RoboCops ou Bumblebees da vida, felizmente; os criadores da animação
optaram por usar um estilo “soft”, fazendo o robô do filme mais macio e fofo
para, principalmente, cativar o público. O fato é o seguinte: até o mais gelado
coração (não, isso não é uma referência a Frozen) irá se simpatizar com Baymax
e até mesmo se emocionar com sua relação com Hiro. A amizade entre os
personagens principais é uma das mais bem trabalhadas da Disney desde Woody e
Buzz em Toy Story e é bastante notável um toque especial “Pixariano” em Operação
Big Hero, principalmente no momento em que Baymax mostra a Hiro a tal forma de
amor inusitada para amenizar a fúria do menino.
O que torna Operação
Big Hero uma animação da Disney tão divertida quanto outros sucessos da casa lançados
nos últimos anos (Enrolados, Detona Ralph, etc) é, mais uma vez, seus
personagens. Além de Hiro, Baymax e Tadashi, que são extremamente simpáticos,
temos também outros nomes, alguns conhecidos nas HQs, como a durona GoGo
Tomago, o histérico e nervoso Wasabi, a simpática e viciada em química Honey
Lemon e o “mascote” brincalhão Fred. As habilidades das personagens são
diferentes das mostradas nas HQs, mas é claro que, para uma adaptação
cinematográfica animada, as mudanças ficaram muito bem encaixadas com a
história do filme e com o seu desenrolar. O público pode se simpatizar tanto
com as personagens que pode acontecer o fato de desejarmos mais aparições
deles, como se fosse necessária uma sequência do filme para melhor explorar a
história de cada um, além das habilidades. Mas, vamos aguardar, pois não
acredito que a Disney fará apenas um filme baseado em Big Hero 6.
O único pecado do filme talvez seja a escolha do vilão. O
antagonista do filme não tem um destaque merecido como acontece em filmes
baseados em quadrinhos da Marvel, nem mesmo uma motivação compreensível para
causar tanto estrago. Apesar do plano do vilão não ser lá tão inteligente como
boa parte do público espera, as sequências de ação com o personagem presente
nelas são ótimas e de ritmo bem acelerado.
O roteiro do longa,
escrito pelo quarteto Don Hall, Jordan Roberts, Duncan Rouleau e Steven T.
Seagle não segue fielmente a HQ da Marvel, tampouco se importa com isso.
Obviamente, fãs de histórias em quadrinhos que já leram Big Hero 6 podem não
sentir um certo conforto ao ver o filme, mas estes devem compreender que o cinema
é extremamente diferente da literatura, além do mais quando se trata de cinema
de animação. Talvez o sucesso de Operação Big Hero se dê pelo fato de as HQs
serem pouco conhecidas. A ideia de “infantilizar” a história da maneira Disney para
o filme não estraga os personagens, muito pelo contrário, pois acredito que o
estúdio conseguiu adaptar de maneira bastante inocente e bem estruturada a
criação da Marvel dos anos 90 para os cinemas.
Don Hall (O Ursinho
Pooh) e Chis Williams (Bolt – O Supercão), diretores de Operação Big Hero,
conseguem “inaugurar” a parceria Disney/Marvel de maneira maestral, com uma história
que nos cativa, emociona, diverte e surpreende ao mesmo tempo. Talvez, o longa
animado seja uma introdução do que o estúdio está preparando juntamente a sua Marvel
para os próximos anos, e deixo aqui bem
claro que sequências de Operação Big Hero são muito bem vindas, mais do que
animações de princesas ou carros falantes. Mais um ponto alto da animação é a
dublagem brasileira que, apesar das controvérsias ocorridas primeiramente após
a escolha da youtuber Kéfera Buchmann e do comediante Marcos Mion como
dubladores de GoGo e Fred, está perfeitamente de acordo com o ritmo do filme.
Sim, até os não profissionais de dublagem se saíram bem e não estragam a versão
brasileira do filme como os Lucianos Hucks da vida.
Aí vai uma dica: Não saia da sala antes dos créditos terminarem de subir quem for fã do Universo Marvel, pois uma pequena participação especial poderá provocar sérios ataques de riso em qualquer bom e velho coração nerd. Após a cena, aí sim vocês podem se despedir temporariamente do filme com um soco-bate seguido de um "trá-lá-lá-lá".
Operação Big Hero (Big Hero 6)
Direção: Don
Hall e Chris Williams
Produção: Roy Conli, Kristina Reed e John Lasseter
Roteiro: Don
Hall, Jordan Roberts, Duncan Rouleau, Steven T. Seagle
Trilha Sonora: Henry Jackman
Elenco: Ryan
Potter, Daniel Henney, Jamie Chung, Scot Adsit, Génesis Rodríguez, Damon Wayans,
T.J. Miller, entre outros.
EUA, 2014 - 1h 43 minutos
Nota: 8,5