domingo, 28 de dezembro de 2014

Operação Big Hero - Crítica

2014 foi realmente grandioso para o cinema de animação. No primeiro mês do ano, fomos presenteados com o criativo e divertidíssimo “Uma Aventura Lego” (minha aposta para o Oscar de Melhor Filme de Animação); depois, choramos e nos emocionamos com “Como Treinar O Seu Dragão 2”, prova definitiva de que uma sequência, quando bem realizada, pode superar seu antecessor; em seguida, nos surpreendemos com os estranhos e divertidos “Os Boxtrolls” e “Festa no Céu”; e, no final do ano, esperávamos que uma tal animação anunciada pela Disney fechasse o ano de 2014 com chave de ouro, o que, de fato, aconteceu perfeitamente.

Operação Big Hero (Big Hero 6) é o primeiro longa-metragem animado da Disney/Marvel após a bilionária compra do estúdio sobre a famosa companhia de entretenimento. Baseado nas HQs criadas por Steven T. Seagle e Duncan Rouleau, em 1998, o filme mostra uma futurista cidade fictícia de San Fransóquio (uma mistura de San Francisco com Tóquio) onde Hiro Hamada, um jovem de 14 anos especialista em engenharia robótica, usa seus dons para criar máquinas em lutas ilegais de robôs, até seu irmão mais velho, Tadashi, convencê-lo a entrar na Universidade para construir um futuro melhor. Quando Hiro apresenta um bem sucedido projeto de “micro-robôs” que se movem através de um neurotransmissor também criado pelo garoto, este é finalmente aceito na instituição; mas, após um misterioso incêndio que mudará para sempre sua vida, cabe a Hiro, Baymax (robô médico criado pelo seu irmão) e seus amigos “nerds” acertarem as contas com o responsável.

 Mais uma vez, a Disney explora a relação fraternal em uma animação. Em Frozen – Uma Aventura Congelante, vimos um confronto existente entre as irmãs Elsa e Anna ser consertado pelo amor das duas. Não muito diferente do filme das princesas, Operação Big Hero aborda a relação entre irmãos como tema principal, porém de uma maneira totalmente diferente do primeiro filme citado. A adaptação da HQ da Marvel tem uma melhor profundidade no assunto, uma vez que o filme é destinado a um público mais maduro do que Frozen, por se tratar de perda, fúria, saudade e, como é de se esperar de um filme da “New-Disney”, uma forma de amor inusitada.

 É da perda de Hiro que surge sua amizade com o robô Baymax.  O personagem, como já fora citado antes, é um tipo de robô enfermeiro, que consegue diagnosticar tanto dores físicas quanto emocionais de seres humanos. O curioso design de Baymax (que nos quadrinhos a Marvel é uma espécie de monstro verde) se distancia de androides já conhecidos como os RoboCops ou Bumblebees da vida, felizmente; os criadores da animação optaram por usar um estilo “soft”, fazendo o robô do filme mais macio e fofo para, principalmente, cativar o público. O fato é o seguinte: até o mais gelado coração (não, isso não é uma referência a Frozen) irá se simpatizar com Baymax e até mesmo se emocionar com sua relação com Hiro. A amizade entre os personagens principais é uma das mais bem trabalhadas da Disney desde Woody e Buzz em Toy Story e é bastante notável um toque especial “Pixariano” em Operação Big Hero, principalmente no momento em que Baymax mostra a Hiro a tal forma de amor inusitada para amenizar a fúria do menino.


 O que torna Operação Big Hero uma animação da Disney tão divertida quanto outros sucessos da casa lançados nos últimos anos (Enrolados, Detona Ralph, etc) é, mais uma vez, seus personagens. Além de Hiro, Baymax e Tadashi, que são extremamente simpáticos, temos também outros nomes, alguns conhecidos nas HQs, como a durona GoGo Tomago, o histérico e nervoso Wasabi, a simpática e viciada em química Honey Lemon e o “mascote” brincalhão Fred. As habilidades das personagens são diferentes das mostradas nas HQs, mas é claro que, para uma adaptação cinematográfica animada, as mudanças ficaram muito bem encaixadas com a história do filme e com o seu desenrolar. O público pode se simpatizar tanto com as personagens que pode acontecer o fato de desejarmos mais aparições deles, como se fosse necessária uma sequência do filme para melhor explorar a história de cada um, além das habilidades. Mas, vamos aguardar, pois não acredito que a Disney fará apenas um filme baseado em Big Hero 6. 

O único pecado do filme talvez seja a escolha do vilão. O antagonista do filme não tem um destaque merecido como acontece em filmes baseados em quadrinhos da Marvel, nem mesmo uma motivação compreensível para causar tanto estrago. Apesar do plano do vilão não ser lá tão inteligente como boa parte do público espera, as sequências de ação com o personagem presente nelas são ótimas e de ritmo bem acelerado.  

 O roteiro do longa, escrito pelo quarteto Don Hall, Jordan Roberts, Duncan Rouleau e Steven T. Seagle não segue fielmente a HQ da Marvel, tampouco se importa com isso. Obviamente, fãs de histórias em quadrinhos que já leram Big Hero 6 podem não sentir um certo conforto ao ver o filme, mas estes devem compreender que o cinema é extremamente diferente da literatura, além do mais quando se trata de cinema de animação. Talvez o sucesso de Operação Big Hero se dê pelo fato de as HQs serem pouco conhecidas. A ideia de “infantilizar” a história da maneira Disney para o filme não estraga os personagens, muito pelo contrário, pois acredito que o estúdio conseguiu adaptar de maneira bastante inocente e bem estruturada a criação da Marvel dos anos 90 para os cinemas.

 Don Hall (O Ursinho Pooh) e Chis Williams (Bolt – O Supercão), diretores de Operação Big Hero, conseguem “inaugurar” a parceria Disney/Marvel de maneira maestral, com uma história que nos cativa, emociona, diverte e surpreende ao mesmo tempo. Talvez, o longa animado seja uma introdução do que o estúdio está preparando juntamente a sua Marvel  para os próximos anos, e deixo aqui bem claro que sequências de Operação Big Hero são muito bem vindas, mais do que animações de princesas ou carros falantes. Mais um ponto alto da animação é a dublagem brasileira que, apesar das controvérsias ocorridas primeiramente após a escolha da youtuber Kéfera Buchmann e do comediante Marcos Mion como dubladores de GoGo e Fred, está perfeitamente de acordo com o ritmo do filme. Sim, até os não profissionais de dublagem se saíram bem e não estragam a versão brasileira do filme como os Lucianos Hucks da vida. 

Aí vai uma dica: Não saia da sala antes dos créditos terminarem de subir quem for fã do Universo Marvel, pois uma pequena participação especial poderá provocar sérios ataques de riso em qualquer bom e velho coração nerd. Após a cena, aí sim vocês podem se despedir temporariamente do filme com um soco-bate seguido de um "trá-lá-lá-lá". 

Operação Big Hero (Big Hero 6) 
Direção: Don Hall e Chris Williams
Produção: Roy Conli, Kristina Reed e John Lasseter
Roteiro: Don Hall, Jordan Roberts, Duncan Rouleau, Steven T. Seagle
Trilha Sonora: Henry Jackman
Elenco: Ryan Potter, Daniel Henney, Jamie Chung, Scot Adsit, Génesis Rodríguez, Damon Wayans, T.J. Miller, entre outros.
EUA, 2014 - 1h 43 minutos

Nota: 8,5 

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