terça-feira, 29 de outubro de 2013

X-Men - Dias de um Futuro Esquecido ganha trailer

 O, sem dúvida, filme mais esperado de 2014, X-Men - Dias de um Futuro Esquecido, que juntará as gerações de mutantes depois de X-Men 3: O Confronto Final e X-Men Primeira Classe ganhou seu primeiro trailer.

 O longa  acontece cerca de dez anos depois de X-Men 3 e, no passado, também dez anos depois dos acontecimentos de Primeira Classe. Num futuro em que os mutantes foram dizimados pelos Sentinelas, Wolverine (Hugh Jackman) é enviado para o passado, para trabalhar em parceria com um reticente Charles Xavier (James McAvoy), em meio os anos 1970. É baseado na clássica série de HQs Dias de um Futuro Esquecido.

Assista ao trailer:




  Patrick Stewart (Xavier), Ian McKellen (Magneto), Jennifer Lawrence(Mística jovem), Michael Fassbender (Magneto jovem), Anna Paquin (Vampira), Ellen Page (Kitty Pride), Shawn Ashmore(Homem de Gelo),Evan Peters(Mercúrio), Halle Berry (Tempestade),  Omar Sy (Bishop), Peter Dinklage(Bolivar Trask) , entre outros, também estão no elenco de X-Men - Dias de um Futuro Esquecido, que estreia em 23 de maio de 2014.


quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Capitão América 2 ganha trailer e cartaz

 Capitão América 2 - O Soldado Invernal, segundo filme do primeiro Vingador do Universo Marvel, ganhou um cartaz há alguns dias e teve seu primeiro trailer divulgado hoje. O vídeo, repleto de ação e momentos da trama, pode ser conferido abaixo:




  No filme, Steve Rogers (Chris Evans) continua sua colaboração com Nick Fury (Samuel L. Jackson) e a S.H.I.E.L.D. e luta para aceitar seu papel no mundo moderno, enquanto uma nova ameaça surge direto de seu passado.

Capitao America 2 poster 2 Também estão no elenco: Scarlett Johansson (Viúva Negra), Sebastian Stan (Bucky Barnes/Soldado Invernal), Anthony Mackie (Falcão), Cobie Smulders (Maria Hill), Frank Grillo (Ossos Cruzados), Georges St-Pierre (Batroc, o Saltador), Hayley Atwell (Peggy Carter), Toby Jones (Arnim Zola), Emily VanCamp  (Agente 13) e Maximiliano Hernández (Agente Jasper Sitwell) e Robert Redford (Alexander Pierce, o líder da S.H.I.E.L.D.).














 O filme estreia no Brasil no dia 11 de abril.

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Ben Whishaw pode protagonizar cinebiografia de Freddie Mercury

 O ator britânico Ben Whishaw (A Viagem, 007: Operação Skyfall) é o novo favorito para interpretar Freddie Mercury, vocalista da banda Queen, na sua cinebiografia, segundo Roger Taylor, baterista da banda. Tudo indica que Whishaw protagonize o filme, assumindo o papel do cultuado músico tanzaniano.

 Sacha Baron Cohen foi o primeiro nome ligado ao projeto, porém deixou o filme por "diferenças criativas" com os integrantes do Queen. Baron Cohen queria fazer um filme polêmico, voltado para o homossexualismo de Mercury, enquanto os músicos da banda queriam um longa-metragem mais “família”. Foi dito que Daniel Radcliffe, astro da saga Harry Potter, poderia interpretar Freddie Mercury no cinema, devido a sua atuação no filme Kill Your Darlings (onde Radcliffe interpretou um poeta gay); o ator, por outro lado, negou o boato. Dominic Cooper (O Dublê do Diabo, Capitão América – O Primeiro Vingador) também estava entre os candidatos a interpretar Mercury.

 A trama se concentra nos anos de formação do Queen, até o show no Live Aid, em 1985. O filme, provavelmente, não mostrará a doença de Mercury e sua morte, em 1991.

 O produtor do filme, Graham King, tem os direitos de uso de músicas como "Bohemian Rhapsody", "We Will Rock You", "We Are the Champions", "Another One Bites The Dust" e "You're My Best Friend".

 Mais informações serão divulgadas em breve.

domingo, 20 de outubro de 2013

Conto - A Sereia do Agreste

 O crime que sujeitou o seu pobre narrador ao cárcere é realmente um fato que ainda me causa intensos calafrios. Sinto-me ainda perturbado pelo que vi, pelo que senti, pelo que pensei, pelo que fiz...

  Tudo teve início na última apresentação de meu “circo de horrores” numa cidade no agreste pernambucano. Sim, eu era dono de um circo com atrações um tanto assustadoras, que deixavam crianças e adultos com as calças borradas. Tamanhas bizarrices eram encontradas em minhas apresentações o que, de fato, interessava bastante o público. Tive a ideia de apresentar, pela primeira vez, minha mais nova atração em um lugar afastado do oceano: a cidade do Brejo da Madre de Deus, próximo ao povoado de Fazenda Nova, onde ocorre a maior apresentação ao ar livre do mundo (na qual muito invejo). Enfim, minha nova atração horripilante era nada menos que uma sereia verdadeira, que meus amigos e eu conseguimos capturar nas praias da capital. Sem dúvida, a melhor pescaria que já tivemos. Felizmente, a mídia ainda nada sabia da criatura, mas, após o espetáculo que aconteceria no Brejo, Deus e o mundo estariam perplexos em frente à folha do jornal.

 Meu circo era transportado em um trem de carga com vagões para cada tipo de criatura (gêmeos siameses ligados pelo tronco, ciclopes, um curupira de verdade, uma mulher que podia se transformar em macaco...) e um último que ninguém tinha a autorização de mexer, além de mim; era o local em que eu guardava objetos de valor e sentimentais, ou, mais ou menos, meu quarto, já que praticamente morávamos na estrada. Já passamos por diversos Estados brasileiros, famosas cidades, mas pouquíssimas vezes visitávamos o interior de nossa terra natal. Desembarcamos no Brejo no dia 29 de outubro, neste ano vitorioso de 1945. 

Quando lá chegamos, as crianças nos receberam com tamanho entusiasmo:

- Oba! O circo chegou! O circo chegou! – Vibravam elas.

- Eita! Não é um circo comum! É um circo dos horrores! Eles têm uma mulher macaco! – Exclamavam.

  E quando elas descobriram a tal “nova atração especial”, só faltaram pirar de vez. O espetáculo seria daqui a dois dias, e já havia pessoas querendo comprar logo suas entradas.

  Meu grupo e eu decidimos acampar fora da cidade, onde ainda havia trilhos de trem. Os organizadores do evento e as atrações montaram suas barracas nos arredores do veículo. Eu, por outro lado, decidi me aconchegar na cabine do maquinista, não no meu último vagão, por causa do calor. Na madrugada, fui acordado com uma voz. A mais bela voz que já ouvi em meus 35 anos de vida. Parecia um anjo que estava a cantar suas melodias celestiais. Não era, porém, um anjo, mas alguém mais interessante: era a sereia que, dentro da sua enorme caixa d’água, no penúltimo vagão, emitia sons semelhantes a um canto. Uma canção que talvez falasse de sua vida no oceano, de seus amores e ilusões perdias. Não pude deixar a curiosidade de lado e entrei no vagão para observá-la. Ao captura-la, do mar, percebi, juntamente com meus amigos, que a sereia não passava de uma criatura horrenda, com guelras em vez de um nariz, careca, com a pele coberta de escamas, os olhos sem pálpebras... era tipicamente um peixe humanoide; mas, quando entrei em seu vagão, naquela madrugada, deparei-me com uma moça jovem, de rosto angelical e inocente, cabelos longos e castanhos, olhos verdes como o oceano e, de fato, extremamente bonita, até mesmo com aquela cauda, ou barbatana, no lugar das pernas e o corpo escamoso.

  Claro, aquilo poderia ser apenas fruto da minha inesgotável imaginação. Não acreditei, porém, que aquilo era apenas um delírio. Eu estava lá, vendo a garota na caixa d’água cantar suas canções e olhando desconfiada para mim. Tentei me aproximar para iniciar uma conversa, porém ela se afastou assustada.  O que eu poderia dizer a ela? Pedir perdão, por tê-la tirado de seu lar? Mas, onde era seu lar? De onde ela veio? Existiam outros como ela? Foram essas e outras perguntas que, infelizmente, não conseguiram sair de minha boca. Eu estava completamente paralisado pela beleza daquela criatura. Não acredito que, no dia seguinte, o público chamaria aquela bela garota de “aberração”, ficaria com medo ou daria gargalhadas.
 Enfim, lá estava minha pessoa observando a moça que aprendeu a ignorar minha presença e voltar a cantar. Aquela doce voz me deixava tranquilo, porém estava começando a me perturbar um pouco. Decidi sair do vagão, deixa-la em paz. Quando o fiz, pude escutar do lado de fora o som de sua música; até na cabine do maquinista consegui escutá-la. “Por que aquilo não saia de minha cabeça?” pensei. Após muito tempo, com os olhos e ouvidos abertos, consegui dormir. Obviamente, tive sonhos estranhos com a sereia, mas isso não vem ao caso. Eu apenas percebi o quanto desejava aquela criatura para mim, mesmo ela aparentando ser terrível para as outras pessoas. Mas, mesmo se a sereia fosse um ser normal, eu não poderia me relacionar, novamente, com algum trabalhador do espetáculo. Já tive reações com algumas garotas da organização e até mesmo das apresentações de horror, e elas foram embora. Aquilo me deixara um bom tempo deprimido.

  Durante a manhã, os preparativos para o espetáculo foram realizados, as atrações ensaiaram pela última vez e a bilheteria teve todos seus ingressos esgotados. No fim da tarde, quando a apresentação começou, a tenda estava lotada de crianças, velhos e adultos, ansiosos pela “nova atração especial”.  

 A apresentação ocorreu muito bem. Cheia de sustos, risadas e surpresas. Quando chegou a hora da sereia, todos ficaram perplexos. Jornalistas locais, não paravam de escrever em seus blocos, contando o que estavam presenciando; havia até mesmo um fotografo batendo umas chapas. A sereia foi apresentada pelo proprietário do circo, isto é, seu humilde narrador. Confesso de também ter ficado boquiaberto, naquele momento, e, principalmente, quando a criatura começou a cantar, emitindo aquela suave voz que quase não me deixara dormir na noite passada. O público, obviamente, maravilhou-se com aquela apresentação. Quando todos aplaudiram, percebi que a sereia deu um leve sorriso. Foi a primeira vez que a vi sorrir.
 Quando o show terminou, os jornalistas que lá estavam correram em nossa direção para saber mais sobre a criatura. Lembro que eu e minha equipe acabamos dando uma pequena entrevista e, devido ao sucesso estrondoso da apresentação, confirmamos outra em dois dias.

 Sentindo-me cansado, fui tentar dormir, quando toda a confusão pós-espetáculo terminou. Fui acordado na madrugada novamente com aquela voz na cabeça. Aquele canto que me deixara encantado estava começando a me atormentar e eu, um homem particularmente fraco por mulheres, sentia-me enfeitiçado pela criatura que emitia aquele belo som. Levantei do meu colchão (havia resolvido acampar, em vez de ficar na cabine) e andei em direção ao vagão onde estava a sereia. Quando lá entrei, ela não se assustou com minha presença. Pelo contrário, sorriu ao olhar para mim. Retribuí o sorriso, me aproximei e fiquei surpreso por ela não ter recuado. Lá estava ela, com a cabeça para fora da caixa d’água, mostrando aquele rosto angelical nem um pouco monstruoso. De repente, a sereia abriu a boca e começou a cantar aquela doce canção para mim. Aproximei-me mais para poder tocá-la, porém mal conseguia andar de tão perplexo que eu estava. Aquela música, de alguma maneira, não estava me fazendo bem. Eu não conseguia entender aquilo: apreciava e não suportava ao mesmo tempo aquele som. Enfim, consegui chegar perto da moça, pus minha cabeça para dentro da caixa d’água e senti meus lábios encostar os dela. Quando fiz aquilo, aquela música entrou completamente em minha cabeça. Senti meu cérebro desembaralhando-se por aquela sonoridade bela e maldita ao mesmo tempo. Imediatamente, interrompi o beijo empurrando-a para baixo d’água. A sereia assustou-se e começou a ofegar quando apertei seu fino pescoço sob a água; ela não podia se mexer, para me impedir, o que resultou numa morte violenta e dolorosa para a criatura. Havia um sangue negro saindo de sua boca e suas guelras. A sereia não mais possuía aquela aparência humana, mas sua típica e monstruosa natureza.

 “O que eu fiz, meu Deus?!”, é um típico pensamento arrependido de alguém que se perdeu na louca obsessão acabou cometendo o maior crime da vida depois do nascimento. Nem mesmo eu acreditei em minha própria loucura repentina. Matei aquela bela criatura! Fiz com que aquela aparência jovem, e mais bela qualquer garota humana, deixasse de existir, na esperança de quem aquele som musical saísse de minha cabeça. Após o ocorrido, felizmente, deixei de imaginar aquela canção dos mares. Enfim, tinha de esconder o corpo da criatura. Como estava tudo escuro, lá fora, e todos dormiam, resolvi coloca-lo no último vagão, junto com as diversas tralhas. Nele não havia luz, tive de rezar para encontrar um lugar adequado para escondê-la naquele espaço completamente dominado pela escuridão. Não conseguia enxergar, mas botei o corpo ao lado de algumas coisas molengas que cheiravam mal. Após terminar o serviço, saí do vagão e tranquei, sem ninguém ter visto. Nos aposentos da sereia, limpei qualquer evidência do crime.

 Na manhã seguinte, inventei uma desculpa para os organizadores do espetáculo, alegando que a criatura havia ficado doente e ninguém podia entrar em seu vagão, nem mesmo o treinador, para deixa-la se recuperar. Meus companheiros ficaram preocupados com a criatura e com espetáculo. Prometi que ela ficaria bem até a noite da segunda apresentação. Porém, não tinha ideia do que fazer. Eu não poderia dizer que a sereia havia morrido precocemente, isso tiraria o interesse do público e faria do espetáculo um verdadeiro fracasso. Para piorar minha situação, aconteceu algo que me deixou mais uma vez terrivelmente perturbado: a voz e a música da sereia voltaram a atormentar minha mente. A cada minuto que passava, aquele som me enlouquecia. Como aquela coisa não parava? O que deveria fazer para parar com aquele inferno de uma vez por todas?!

 Tive de aturar meus colegas reclamando da suposta doença da sereia e o canto da falecida em minha mente, nada poderia piorar o meu dia, a não ser a chegada do dia seguinte, que teríamos a segunda apresentação. A situação melhorou um pouco dos males quando a noite caiu, pude tentar descansar, mesmo com aquela voz zumbizando em minha cabeça. Eu não conseguia decifrar o que aquela música dizia, era uma língua diferente; porém, ainda não sei a razão disso, sabia que ela estava me alertando a fazer algo.  
 Quando amanheceu, menti para demais organizadores, dizendo que a apresentação da sereia estava sob meu controle. Armamos a tenta do circo e resolvemos deixar pessoas se acomodarem no chão também, pois daria um maior número de gente para assistir ao “Circo dos Horrores do Dr. Abóbora”. De fato, pareceu toda a pequena cidade do Brejo estar no circo, naquela noite.

 Assim como na última apresentação, tudo ocorreu bem, no começo. Eu, por outro lado, não sabia o que fazer. Estava desesperado! O que eu faria para “cancelar” a apresentação da sereia? Quando, infelizmente, chegou meu momento de aparecer no picadeiro para apresentar a atração mais esperada, minha cabeça começou a explodir de dor, por da música que não parava de tocar. Aquilo já estava passando dos limites, eu não aguentaria até o fim do espetáculo.
 Quando apareci para agradecer ao respeitável público e, enfim, chamar a sereia para matar a curiosidade de muitos, senti-me tonto, perturbado com aquela voz que estava cada vez mais alta. Tudo que consegui dizer foi o que finalmente compreendi o que aquela cantoria estava me dizendo: “CONFESSE, SEU ASSASSINO COVARDE!”.

 Minha cabeça girava, eu gritava sem parar: “CONFESSE, SEU ASSASSINO COVARDE!”. Quando coloquei minhas mãos na cabeça para tentar amenizar a dor e me pus de joelhos no meio do picadeiro, finalmente, confessei meu crime. Logo em seguida, desmaiei.

 Então, acordei já na sela de prisão, onde estou relatando esse fato ocorrido aos meus caros leitores. Como se não bastasse, além do corpo da sereia, descobriram as outras trabalhadoras jovens do circo, que haviam “pedido demissão”, juntamente com outras criaturas que haviam “sumido”; suas carnes já se encontravam em estado de putrefação, naquele fétido último vagão. Das vítimas que fiz, devida a minha perturbadora fraqueza pelo sexo oposto, foi a sereia quem, de fato me enfeitiçou, a ponto de eu me incriminar pelos crimes.

 Apesar de ter feito o que a música me pedia para fazer, ela jamais deixou de me atormentar a mente. Aquela voz suave, perturbadora, meiga e assustadora ao mesmo tempo poderá me levar a óbito qualquer dia, ou para um sanatório, onde eu possa fazer amizade com algumas enfermeiras. 







domingo, 13 de outubro de 2013

Gravidade - Crítica

“Agoniante”, “surpreendente”, “original” e “tenso” são palavras que melhor descrevem o longa-metragem Gravidade (Gravity), a nova produção do mexicano Alfonso Cuarón (E Sua Mãe Também, Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban). Na sua semana de estreia nos EUA, o filme arrecadou nada menos que US$ 55,5 milhões, tornando-se sucesso imediato.

 Considerado por muitos o melhor filme de ficção científica dos últimos anos (o cineasta James Cameron particularmente adorou o filme, fazendo-lhe altos elogios) e já cotado para as indicações de melhor filme e diretor no Oscar 2014, Gravidade conta com uma história que não necessita de reviravoltas enigmáticas, frases marcantes (apesar dos ótimos diálogos) e complexidades na trama, mas de outros elementos essenciais para chamar atenção do público, como: surpresas, aflições, tensões e, claro, o terror dos personagens e o incrível desenvolvimento da protagonista. Na trama: A cientista médica Ryan Stone (Sandra Bullock) está em sua primeira missão espacial, ao lado do veterano astronauta Matt Kowalsky (George Clooney) e os outros tripulantes da nave Explorer. Quando Russos atiram em um dos seus satélites para destruí-lo, seus estilhaços provocam um desastre que destrói a nave, deixando Stone e Kowalsky como únicos sobreviventes. Os astronautas ficam, então, à deriva no espaço, ligados um ao outro apenas por um cabo. Uma história simples? De fato. Original? Muito. Um filme em que a história é o elemento que menos importa? Por incrível que pareça, sim! 

 A silenciosa imensidão do espaço, a distância da Terra, a falta de oxigênio e, principalmente, a impossibilidade viver em órbita são desafios enfrentados não somente pelos personagens, mas também pelo público.  A perfeição visual e sensitiva de Gravidade permite a quem assiste sentir-se, de fato, no filme. O competente trabalho do diretor Alfonso Cuarón permitiu a realização do filme de ficção científica mais realista desde 2001 – Uma Odisseia no Espaço (1969), de Stanley Kubrick. Em alguns momentos do longa, me veio em mente possíveis referências ao clássico de Kubrick que revolucionou o gênero e quem acreditou que Avatar (2009), de James Cameron, revolucionaria novamente o gênero para uma nova era de filmes com a temática espacial, pode estar enganado; felizmente, esse fato só aconteceu em 2013. O que deixa Gravidade com mais realismo é o bom uso da câmera em primeira pessoa, durante os melhores momentos de tensão; a ausência de som, que, apesar de ser acompanhada com uma trilha sonora assustadoramente eletrizante de Steven Pride, não era realmente necessária (apenas os gritos e barulhos de respiração seriam suficientes para deixar as sequências mais épicas, mas a trilha não altera a qualidade destas) e as excelentes atuações.

  Sandra Bullock enfrenta boa parte do filme sozinha, apreensiva em sua primeira missão fora da Terra, o que fez de sua personagem uma pessoa assustada que faz o possível para sobreviver. Bullock desempenhou um dos melhores papéis de sua vida, não só pela interpretação de uma “personagem assustada”, mas por seu desenvolvimento. Ao longo da trama, é visível uma transformação de sua personagem, tanto no caráter físico quanto psicológico. George Clooney interpreta o veterano astronauta calmo e sarcástico, contador de histórias e desafiador de recordes, admirador da paisagem que muda de um homem com caráter bonachão e tranquilo para preocupado e estimulador, quando a acontece o acidente durante a missão. No começo, o público deve achar que o personagem de Clooney é apenas um alívio cômico, mas isso não é verdade; no final do filme, é notável que Kowalsky, apesar de aparecer menos que a dra. Stone, fora tão importante quanto a personagem principal.

 Voltando aos recursos técnicos, apesar do perfeccionismo de Cuarón, era impossível um filme como Gravidade não deixar deter alguns erros científicos. Alguns deles foram detectados pelo astrofísico norte-americano Neil deGrasse Tyson, que fez críticas à vários filmes de ficção científica; o físico, após assistir o filme, publicou em seu twitter: “Por que Bullock, uma médica, trabalha na manutenção do Telescópio Espacial Hubble?” “Por que o cabelo de Bullock não flutua sobre sua cabeça em algumas cenas convincentes de gravidade zero?”, entre outras coisas. Apesar dos 12 tweets sobre o filme, Tyson alegou ter gostado de Gravidade. Claro que tais deslizes científicos não tiram a perfeição do longa; seu gênero já diz tudo: FICÇÃO-científica, que procura misturar o imaginário com o real. No caso da produção de Cuarón, o real, apesar das falhas apontadas por Tyson, é o ponto mais valorizado.

 O belíssimo 3D é também um dos fatores que permite o público entrar no filme. Se o tradicional 3D foi uma experiência incrível, não consigo imaginar a sensação de agonia do começo ao fim do filme na sala IMAX. A ótima fotografia presente no longa, feita pelo computador, provavelmente, também é um belo recurso acompanha as melhores cenas de voo e destruição em órbita. Falando em cenas de voo, os atores tiveram de fazer treinos específicos para astronautas para encarar com perfeição o papel, simulando da melhor maneira um astronauta girando em órbita. Sandra Bullock teve de gravar a maioria das cenas em uma caixa vazia durante horas. Os excelentes efeitos visuais darão, com certeza, à Gravidade prêmios na categoria de melhores efeitos ou fotografia, além de outras indicações.

 No final, Gravidade mostra que é possível encarar a paisagem além de admirá-la, pois a persistência da dra. Stone para voltar para Terra é o momento em que a personagem atinge seu nível máximo de maturidade e desenvolvimento, sendo o fato de ficar praticamente sozinha no espaço e lutar para retornar pra casa um desafio que, futuramente, contribuísse para uma ação de alta dificuldade. A perfeita mistura de ação, drama e ficção científica, momentos de extremo espanto e angústia protagonizados por ótimos artistas em mais filme com o inquestionável talento de Alfonso Cuarón na direção. De fato, Gravidade fará, não só seus olhos saltarem das órbitas, mas os pulmões e coração saírem pela boca.

Gravidade (Gravity)
Direção: Alfonso Cuarón.
Produção: David Heyman, Alfonso Cuáron.
Roteiro: Alfonso Cuáron, Jonás Cuarón.
Trilha Sonora: Steven Price.
Elenco: Sandra Bullock, George Clooney, Ed Harris, Paul Sharma, Amy Warren.
Nota: 9

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Lista do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro tem número recorde de países na disputa pela indicação

  Foi divulgado nesta segunda-feira (2) pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood que há 76 países na competindo pela indicação do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, sendo um número recorde que conta com países que participam pela primeira vez: Moldávia, Montenegro e a Arábia Saudita.

 “O Som Ao Redor”, produção pernambucana de Kleber Mendonça Filho (Recife Frio), está representando o Brasil na possível candidatura à estatueta. Entre os outros candidatos latino-americanos, estão: o argentino "Wakolda", de Lucía Puenzo; o chileno "Gloria", de Sebastián Lelio; o colombiano "La playa DC", de Juan Andrés Arango; o dominicano "¿Quién manda?", de Ronni Castillo; o equatoriano "The porcelain horse", de Javier Andrade; o mexicano "Heli", de Amat Escalante; o peruano "The cleaner"; o uruguaio "Anina", de Alfredo Soderguit, e o venezuelano "Brecha en el silencio", de Luis Alejandro Rodríguez e Andrés Eduardo Rodríguez.


 A lista dos indicados ao Oscar 2013 será divulgada no dia 16 de janeiro. A 86ª edição do prêmio mais famoso do cinema acontecerá em 2 de maio, no Teatro Dolby, de Hollywood. 

Resenha crítica do filme "A Guerra do Fogo"

Recentemente, assisti ao filme "A Guerra do Fogo" na Faculdade e, como trabalho para a aula de Humanidade, o professor pediu uma resenha crítica do filme. Decidi postá-la no blog, pois talvez seja interessante também para os leitores. Um aviso: "A Guerra do Fogo" é um daqueles filmes obrigatórios!


  Produzido em 1981, mas datado de milhões de anos atrás, o longa-metragem “A Guerra do Fogo”, dirigido por Jean-Jacques Annaud (O Nome da Rosa), mostra os primórdios da raça humana, logo após a descoberta do fogo, que é desejado por todas as tribos que o veem como símbolo de poder.

  O fogo era, então, a maior cobiça dos indivíduos e principal motivo de ataques e confrontos, e quando é roubado de uma comunidade por outra rival, cabe ao líder e seus dois companheiros partirem para recuperá-lo. Na busca pelo combustível, os homens passaram por diversas experiências fundamentais para o futuro processo de evolução; entre elas, a questão “homem x natureza (flora e fauna)”: há, no longa, uma cena em que os 3 homens, fugindo de tigres-dentes-de-sabre, procuram proteção em cima de uma árvore e um momento em que o líder procura estabelecer uma comunicação com um mamute, oferecendo-lhe comida, fazendo entender que o meio em que homens e animais vivem pode ter espaço suficiente para os dois e que uma forma de cooperação é possível. Mais tarde, o homem aprendera a domesticá-los.

 O comportamento racional humano em desenvolvimento também é colocado no filme, principalmente no momento em que um membro do grupo que parte pela busca do fogo cospe um pedaço de carne que comera, ao perceber que era humana; eles, portanto, tinha consciência de que o canibalismo, ou antropofagia, não devia ser praticado, diferente de outros grupos que aderiram o infeliz costume. Quanto ao comportamento sexual, as relações entre machos e fêmeas eram realizadas praticamente da mesma maneira que os outros animais, até o casal principal do filme criar uma maneira mais humana de praticar atos sexuais, “face a face”.

  Em “A Guerra do Fogo”, é notável que os grupos de humanos, apesar de primitivos, possuem um sistema de comunicação bem desenvolvido, para os seres pré-históricos, e, acima de tudo, uma cultura. Cada povo possuía sua forma de se expressar, costumes, maneiras de comunicação e técnicas que, com o tempo, foram passadas de indivíduo para indivíduo. Como exemplo, podemos citar a “receita” para fazer fogo, que era dominada apenas por um grupo, até o líder da tribo que buscava por fogo aprendera e, assim, não precisou mais guerrear pelo combustível. Fazendo o fogo, o homem poderia criar sua principal fonte de poder, sem auxílio de uma força maior, por assim dizer. Pode ser prudente afirmar que há características antropocêntricas no filme, ou, pelo menos, uma pequena introdução ao pensamento de o homem ser o centro de tudo.

  Quanto aos recursos técnicos, “A Guerra do Fogo” é um dos longas-metragens que melhor retrata a vida no tempo das cavernas, sendo muito elogiando por cientistas e historiadores, por possuir excelentes direções de arte, fotografia e maquiagem; este último recurso rendeu ao filme um prêmio Oscar, em 1983. Falando dos atores, todos parecem ter sido enviados de uma máquina do tempo, da pré-história para a atualidade. Ron Perlman (o Hellboy do cinema) atua como um membro do clã principal na sua estreia no cinema; mais tarde, em 1986, o ator voltaria a trabalhar com o diretor Jean-Jacques Annaud em “O Nome da Rosa”.

 No final, o filme nos faz refletir na cena de encerramento, em que o casal protagonista olha atentamente para a Lua, provavelmente pensando no que estava a vir pela frente, e a fêmea percebe que está grávida: Uma nova vida, para um possível novo mundo, com novas descobertas e tecnologias. Ao assistir “A Guerra do Fogo”, me perguntei: Será que também estamos próximos a evoluir para uma raça de inteligência superior? O que está por vir? Vamos ter uma descoberta tão importante quanto o fogo ou a eletricidade? É incrível como voltar ao passado, nos faz pensar tanto sobre o futuro.

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Conto - A órbita vazia de Ernesto (Parte III)

 Assim que pus os pés na cozinha, recebi uma enorme carga do pior choque que alguém pode levar. Deparei-me como corpo de uma das cozinheiras estirado no chão, sobre uma poça de sangue que escorria devido um feito à faca na barriga, e um rasgo enorme na órbita direita, que já não possuía mais um olho. Acho que não preciso dizer quem, obviamente, havia feito aquilo. Agora tudo estava perdido para o velho empregado, tornara-se um assassino!  

 Ao ver o corpo da cozinheira, que fora uma das coisas mais terríveis que presenciei, meu grito de horror não saíra, pois ele fora interrompido por um forte golpe de um objeto metálico que senti na cabeça, deixando-me tonto. Caí no chão e agonizei de dor. Pude ver, de forma embaçada, Ernesto segurando um candelabro com a mão esquerda enquanto segurava uma faca ensanguentada, com um olho na ponta, com a direita. Sem mais nem menos, o velho afastou-se de mim, estava indo à escada. Ele sabia que minha namorada estava no segundo andar. Ernesto não queria meu olho direito, mas o dela.
 Eu estava tonto demais e lutei para levantar sem cair no chão ou mais próximo da poça de sangue que estava escorrendo pelos azulejos brancos da cozinha. Gritei por socorro, mas em vão, pois minha voz estava fraca, devido aos tamanhos choques e a dor insuportável que sentia na cabeça. Eu tinha deter Ernesto. Meu desespero ajudou-me esquecer do ferimento na cabeça que latejava, porém ainda me sentia tonto.

 Cambaleei até o hall da escada que dava acesso aos outros andares e vi o empregado subindo para atacar a senhorita Lisa. Apesar de estar enxergando tudo “girando”, lutei para permanecer de pé e não cair. Quando um grito desesperado veio da cozinha (alguém, finalmente, havia encontrado o corpo e chamaria os seguranças), Ernesto virou-se de costas assustado e se deparou comigo logo atrás, prestes a tentar mobilizá-lo. Ele foi mais rápido que eu, desferindo-me um golpe a faca, cortando meu rosto. De repente, senti minha visão direita tornar-se escura; a faca havia cortado minha córnea tão profundamente que me fizera perder a visão. O sangue jorrava.

 Quando o velho movimentou-se para me atacar novamente, Lisa aparece desesperadamente na escada, agarrando as mãos armadas de Ernie, impedindo-o de me esfaquear. Este, com uma força inacreditável, conseguiu livrar-se dela, atirando a garota para o lado. Fiquei com raiva e me joguei em frente ao velho para ataca-lo, alguma que nunca imaginei que fosse fazer um dia. Avancei, então, cheio de dor e tontura, para cima de Ernesto; travamos um violento confronto físico que nos fizera rolar escada abaixo.  Quando caímos no piso do hall, senti meus músculos moídos, ocasionando uma dor insuportável. O velho estava lá, deitado de barriga para baixo, tremendo. Fui verificá-lo e vi aquele fenômeno mais que estranho e perturbador, que já havia presenciado, porém jamais consegui explicar: lágrimas, vindas de sua órbita vazia, mesmo não tendo um órgão de visão, tampouco canal lacrimal, saiam por baixo de seu tapa-olho. Mesmo chorando e tremendo, Ernie pegou a faca numa fração de segundos e golpeou-me no olho esquerdo, sem mais nem menos. A dor me fizera perder os sentidos. Pude ouvir passos de pessoas armadas chegando ao local do incidente e, logo após, desmaiei.

 Quando acordei no hospital, descobri uma série de coisas: Assim que abri os olhos, percebi que agora poderia enxergar mais nada além de uma imensidão negra; Lisa, minha futura noiva, havia encontrado a chave dos aposentos de Ernesto e a polícia encontrara lá dentro potes com os olhos das aves e dos defuntos, ainda descobriram que, além da cozinheira, Ernie havia matado um dos jardineiros e escondera seu olho nos bolsos da calça; por último, descobri que o velho empregado havia morrido de um ataque cardíaco, após ter me atacado e recebido ordem de prisão.


 Fiquei muito triste quando soube da morte de Ernesto. Eu não pude sentir ódio daquele senhor que conhecia desde o dia que nasci, pois ele era apenas outra vítima das insanidades da mente humana. Sua loucura veio da obsessiva paixão e o desejo desesperado de possuir tal coisa que sempre desejara. Esse era o problema que incapacitava Ernesto de enxergar a razão e a triste realidade. 

  Apesar de eu não mais ter o privilégio de ver minha amada, nem meus entes queridos ou algumas outras pequenas coisas que me satisfaziam, acho que, na minha humilde opinião, mais vale perceber, sentir, ou até mesmo imaginar o mundo do que simplesmente ver suas tantas negatividades e os poucos atos que nos fazem ter menos esperanças nele. A realidade, porém, pode ser invisível para mim agora, mas deve ser encarada da mesma maneira como sempre fora. 




Conto - A órbita vazia de Ernesto (Parte II)

Após um tempo, todos os habitantes das terras de minha família notaram um acontecimento assustadoramente estranho: algumas aves, galinhas, gansos, patos e um pavão, que criávamos na pequena fazenda da propriedade, foram encontradas mortas nos arredores do local. Os pobres animais apresentavam a mesma mutilação que causara a morte: o olho direito arrancado da órbita. Jeito estranho de matar um animal, sem falar no, ainda mais estranho, fato de o assassino ter levado o órgão tirado do bicho e deixado o corpo lá. Se fosse algum ladrão, obviamente teria levado os restos da ave, ou sequer matado.

 Claro que eu sabia quem era o responsável pela morte das pobres aves, só não queria acreditar. Não podia acreditar! Ernesto jamais fez mal a uma mosca, nem mesmo matava os escorpiões ou cobras que apareciam nas pedras e jardins da propriedade. Porém, como eu estava presente naquele desagradável dia de pescaria e vi o que aconteceu, era impossível não tirar a ideia de que Ernie era o responsável pelas mortes da cabeça. Não podia comentar isso com alguém da família ou com outro empregado, pois julgariam a mim como o pobre insano, e não o velho.

 Tudo piorou quando a governanta da mansão faleceu. Velamos o corpo durante o dia, dentro de casa. Todos os empregados, cozinheiros e ajudantes estavam abalados, exceto Ernesto que sequer expressava-se, o que era estranho, pois ele sempre se relacionou muito bem com a falecida Senhorita Carter. Durante a tarde, enterramos o corpo no cemitério da vila local, onde estavam acontecendo mais dois enterros. Após depositarmos o caixão na cova, todos saíram para tomar seu rumo, menos Ernie, que ficou lá parado, observando o túmulo da velha governanta. “O que será que ele estava pensado?” me perguntei, até que resolvi tentar falar com ele:

- Ernie, - Chamei. – não acha melhor irmos embora?

 O velho tomou um pequeno susto quando o chamei de repente, abrindo um pequeno sorriso e respondendo:

- Sim, meu filho, Tem razão. Acho que não há mais nada para ver, por aqui.

 Sua resposta fora uma das coisas mais fingidas que já ouvira na vida. Finalmente, fomos para casa quando já estava prestes a anoitecer.

 Quando a noite caiu, minha família e eu fomos jantar. Comemos pouco e decidimos ir dormir mais cedo, exceto os empregados, que, ainda abalados com a morte da velha governanta e com a chacina que acontecera no galinheiro (na qual eu sabia quem era o responsável, porém tinha medo de dizer), estavam impossibilitados de sentir sono. Durante a noite, não vi Ernesto em lugar algum da propriedade. Resolvi verificar se ele estava em seus aposentos, mas a porta estava trancada, presumi que ele já estivesse dormindo. Eu me sentia cansado, porém ainda preocupado com o velho empregado; mesmo assim, decidi ir para cama.


 Fui despertado, na manhã seguinte, com uma notícia terrível! O túmulo da Senhorita Carter, nossa governanta, havia sido violado, assim como os outros dois recentes. Fiquei ainda mais aterrorizado quando me disseram o que roubaram dos túmulos: os olhos direitos dos defuntos. Roupas, joias, relógios, nada disso fora levado, somente o órgão que já não mais enxergava daquelas pessoas. Ernesto virou um ladrão de túmulos! Jamais pensei que uma das pessoas que mais tinha confiança pudesse fazer isso! Eu não podia fingir que nada havia acontecido. Precisava, urgentemente, denunciar o empregado. 

  Meus pais eram aquelas pessoas rígidas, que não aceitavam ouvir mentiras, e eu, que era apenas um garoto de 16 anos, tinha autoridade nenhuma, nem mesmo evidências que comprovassem que Ernie era o culpado pelos crimes. Como era de se imaginar, meus pais não acreditaram em mim e me mandaram não dizer mais aquelas bobagens. Mas, eu não conseguia tirar aquilo da cabeça.  O que diabos Ernesto seria capaz de fazer agora? Procurei o velho por todos os lugares, mas não o encontrei, o que me deixou com medo. “O que será que ele está fazendo?” me perguntava. Fui até seus aposentos, bati a porta e chamei seu nome... nada! Tentei abrir... trancada! Era domingo, seu dia de descanso, porém Ernie jamais respeitava essa regra. Queria chamar meu pai para tentar convencer o empregado a abrir a porta do quarto, mas imaginei que aquela seria uma péssima ideia. Até porque meus pais não estavam em casa, haviam saído para resolver assuntos no centro da vila. Fiquei lá parado, até escutar uma voz doce e suave chamar meu nome.

  Era minha namorada, a bela senhorita Lisa. Eu estava feliz em vê-la, mas, ainda assim, perguntei:

- O que estás fazendo aqui?

 A garota, antes de responder, agarrou-me para me dar um beijo. Em seguida, falou:

- Eu havia ligado para sua casa, de manhã cedo, mas você estava dormindo. Sua mãe disse que estavas com algum problema e me pediu para visita-lo, durante a tarde. Estive preocupado contigo! Não o veja há dias e sinto muito sua falta.

 É claro que eu também sentia falta da minha menina, mas não pude esconder dela minha obsessão pela ideia de que o velho Ernesto seria o responsável por aqueles crimes. Precisava contar à Lisa o que eu vi e imaginei, mas tive medo que ela me jugasse como uma pessoa de “imaginação delirante”, assim como meus pais. Enfim, contei.

 Graças aos céus, pelo menos Lisa pareceu acreditar em mim, querendo, de algum jeito, entrar nos aposentos do empregado para encontrar alguma evidência que comprovasse sua culpa pelos crimes. De repente, veio-me em mente uma ideia que já devia ter pensado há horas! Havia um quarto no final do corredor do segundo andar de minha casa que servia de depósito para gaveteiros. Com certeza, em uma das gavetas estariam guardadas todas as cópias das chaves dos cômodos da casa, ou até mesmo em uma das prateleiras da cozinha.

 Portanto, resolvemos nos separar par encontrar a maldita chave: Lisa fora procurar no quarto de depósito enquanto eu desci as escadas até a cozinha para a busca.


(Continua...)




terça-feira, 1 de outubro de 2013

Conto - A órbita vazia de Ernesto

 Nunca pensei que Ernesto, o empregado que trabalhou mais tempo em minha residência, desde a época em que meu avô mandava na propriedade, pudesse fazer o que fez. Sempre fora um bom homem, gentil, calmo, que jamais alguém o julgaria por algum crime ou pecado, o velho Ernie.

  O único defeito do meu antigo empregado tornou-se a causa da sua repentina loucura e obsessão por algo que não mais vejo diariamente. Ernie havia nascido sem o olho direito e sempre quis poder enxergar o mundo com os dois aparelhos de visão. Claro que, com o tempo, a pele tomou conta do lugar onde teria um olho; porém, ainda havia um pequeno “buraco” que destacava a órbita sem o órgão. O pobre homem, porém, levou sua vida normalmente, mas tinha uma estranha admiração pelos olhos alheios. Se Ernesto estivesse apaixonado, não seria por uma mulher ou seu corpo, inteligência, coisa e tal, mas pelos olhos. Aliás, Ernie apaixonava-se por qualquer tipo de olho, seja ele pertencente a um humano ou animal.

 Quando eu era criança, lembro-me de sempre vê-lo admirar o misterioso olhar de minha gata, ou os olhos amarelados da coruja que vivia em uma das árvores no jardim da propriedade. Sentia-me extremamente desconfortável quando Ernie olhava em meus olhos. Era perturbador aquele olho castanho escuro olhando para os seus ao mesmo tempo, sem falar no tapa-olho que sempre cobria sua órbita vazia, o que me dava calafrios.

 Ernesto começou a trabalhar na minha casa quando ele e meu avô ainda eram crianças. Era filho do mordomo da mansão e, depois que sua mãe morreu e ficou sem ter onde morar, fora morar na propriedade do patrão do seu pai. Sendo assim, o bom e velho empregado cresceu sob o teto das terras de minha família. Posso considera-lo um parente de sangue diferente... Enfim, Ernie resolveu viver e trabalhar (claro que com vários privilégios, por ser muito amigo da família) nas propriedades do meu avô, quando ele assumiu o poder. Em todos seus anos de serviço, o homem recebia reclamações de empregadas, cozinheiras e camareiras que por ele eram “encaradas”; de fato, as senhoras sentiam-se desconfortáveis em ter um homem sempre observando com um único olho seus olhos, como se aquele órgão fosse uma arma capaz de oprimir qualquer pessoa quando recebia aquele fixo olhar.

 Foi Ernesto quem descobriu que meu avô havia morrido. O velho estava indo levar uma xícara de café ao amigo/patrão, que não podia sair da cama por estar muito debilitado, e acabou se deparando com seu corpo sem vida, deitado, com os olhos bem abertos. Encontramos, eu e meu pai, o empregado ao lado do corpo, com o olhar fixo nos olhos abertos do cadáver. Tanto o corpo morto de meu avô quanto a expressão de horror que deixava o único olho de Ernie totalmente esbugalhado, deixaram-me perturbado. O velho passou dias na profunda tristeza pela morte de seu mais antigo e melhor amigo. Quando vi o empregado chorando pela primeira vez, tentei acalmá-lo, dando uns tapas amigáveis nas costas e abraçando-o e, ao ver seu rosto, percebi uma coisa realmente muito estranha e inexplicável: haviam lágrimas saindo de sua órbita vazia. “Como aquilo era possível?!” perguntei-me. Jamais encontrei uma resposta para aquele fato. Foi tenebroso, disso tenho certeza!

 Quando atingi a adolescência, percebi o quanto Ernie estava diferente; estava envelhecendo cada vez mais rápido e esquecendo um pouco das coisas, mas sua obsessão por olhos alheios continuara a mesma, talvez pior... bem pior! Uma vez, eu havia levado minha nova namorada para conhecer a mansão da minha família e suas terras e, obviamente, apresentei a garota ao mais fiel e antigo empregado de lá, o velho Ernie. Eu jamais devia ter feito aquilo! O empregado, como já era de se imaginar, ficou encantado ao olhar a beleza dos olhos da moça, tanto que ficou exatamente 5 minutos parado em frente dela, sem dizer uma palavra, com o olho fixo nos dela. Quando foi beijá-la, como cumprimento, tentou encostar os lábios na testa, mas quase que eles atingiam o órgão ocular direito da guria. Aquilo não só me deixou um tanto zangado como assustado.

 Depois do ocorrido, percebi que o empregado pouco falava ou fazia seus serviços corretamente. Meu pai, que assumiu a propriedade da família com muita responsabilidade, achou que o velho precisasse de descanso. Pensei o mesmo. Assim, resolvi levá-lo para um entretenimento, uma pescaria, o que, com certeza, fora o maior erro que cometi na vida! Aquela pescaria foi o estopim para a insanidade de Ernesto.
 Tive a péssima ideia de deixá-lo iniciar a pesca, e o velho conseguiu pegar um enorme bagre de primeira. O anzol havia atravessado a boca do peixe até furar o olho e Ernesto, ao tirar o objeto, acabou por arrancar o globo ocular do bicho. Aquilo, para ele, foi um dos maiores feitos que fizera na vida. Não tiro da cabeça a imagem de Ernie admirando aquela pequena bola ensanguentada que permitia o pobre animal enxergar. Foi justamente o olho direito que ele arrancara do bicho. Para completar, vi Ernie fingindo estar colocando o olho decepado do peixe em sua órbita vazia. Terminado o “ritual” ocular, o velho empregado não mais quis continuar a pescaria. Começou a rir. Ria descontroladamente, se mexendo tanto que o barco na qual estávamos começou a balançar. Tal ataque fora tão perturbador que resolvi remar até a superfície do lago, para voltarmos para casa. 

  Depois daquele dia, o velho Ernie estava completamente mudado. Havia nele algo misterioso, como se uma nuvem negra o tivesse consumido, tirando-lhe todo o jeito simpático de ser, tornando-o um homem frio e extremamente quieto. Agora, para Ernesto, somente olhar nos olhos de qualquer criatura já não era o suficiente.



(Continua...)





 

O Hobbit - A Desolação de Smaug ganha novo trailer

 Foi divulgado hoje o segundo trailer da sequência de O Hobbit, A Desolação de Smaug. O vídeo contém vários momentos do novo longa e grandiosas cenas de ação.

Confira:




  O Hobbit - A Desolação de Smaug chega aos cinemas em 13 de dezembro. A terceira parte, O Hobbit - Lá e De Volta Outra Vez, que finalizará a nova trilogia de Peter Jackson baseada na obra imortal de J.R.R. Tolkien, estreia em 19 de dezembro de 2014.