domingo, 13 de outubro de 2013

Gravidade - Crítica

“Agoniante”, “surpreendente”, “original” e “tenso” são palavras que melhor descrevem o longa-metragem Gravidade (Gravity), a nova produção do mexicano Alfonso Cuarón (E Sua Mãe Também, Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban). Na sua semana de estreia nos EUA, o filme arrecadou nada menos que US$ 55,5 milhões, tornando-se sucesso imediato.

 Considerado por muitos o melhor filme de ficção científica dos últimos anos (o cineasta James Cameron particularmente adorou o filme, fazendo-lhe altos elogios) e já cotado para as indicações de melhor filme e diretor no Oscar 2014, Gravidade conta com uma história que não necessita de reviravoltas enigmáticas, frases marcantes (apesar dos ótimos diálogos) e complexidades na trama, mas de outros elementos essenciais para chamar atenção do público, como: surpresas, aflições, tensões e, claro, o terror dos personagens e o incrível desenvolvimento da protagonista. Na trama: A cientista médica Ryan Stone (Sandra Bullock) está em sua primeira missão espacial, ao lado do veterano astronauta Matt Kowalsky (George Clooney) e os outros tripulantes da nave Explorer. Quando Russos atiram em um dos seus satélites para destruí-lo, seus estilhaços provocam um desastre que destrói a nave, deixando Stone e Kowalsky como únicos sobreviventes. Os astronautas ficam, então, à deriva no espaço, ligados um ao outro apenas por um cabo. Uma história simples? De fato. Original? Muito. Um filme em que a história é o elemento que menos importa? Por incrível que pareça, sim! 

 A silenciosa imensidão do espaço, a distância da Terra, a falta de oxigênio e, principalmente, a impossibilidade viver em órbita são desafios enfrentados não somente pelos personagens, mas também pelo público.  A perfeição visual e sensitiva de Gravidade permite a quem assiste sentir-se, de fato, no filme. O competente trabalho do diretor Alfonso Cuarón permitiu a realização do filme de ficção científica mais realista desde 2001 – Uma Odisseia no Espaço (1969), de Stanley Kubrick. Em alguns momentos do longa, me veio em mente possíveis referências ao clássico de Kubrick que revolucionou o gênero e quem acreditou que Avatar (2009), de James Cameron, revolucionaria novamente o gênero para uma nova era de filmes com a temática espacial, pode estar enganado; felizmente, esse fato só aconteceu em 2013. O que deixa Gravidade com mais realismo é o bom uso da câmera em primeira pessoa, durante os melhores momentos de tensão; a ausência de som, que, apesar de ser acompanhada com uma trilha sonora assustadoramente eletrizante de Steven Pride, não era realmente necessária (apenas os gritos e barulhos de respiração seriam suficientes para deixar as sequências mais épicas, mas a trilha não altera a qualidade destas) e as excelentes atuações.

  Sandra Bullock enfrenta boa parte do filme sozinha, apreensiva em sua primeira missão fora da Terra, o que fez de sua personagem uma pessoa assustada que faz o possível para sobreviver. Bullock desempenhou um dos melhores papéis de sua vida, não só pela interpretação de uma “personagem assustada”, mas por seu desenvolvimento. Ao longo da trama, é visível uma transformação de sua personagem, tanto no caráter físico quanto psicológico. George Clooney interpreta o veterano astronauta calmo e sarcástico, contador de histórias e desafiador de recordes, admirador da paisagem que muda de um homem com caráter bonachão e tranquilo para preocupado e estimulador, quando a acontece o acidente durante a missão. No começo, o público deve achar que o personagem de Clooney é apenas um alívio cômico, mas isso não é verdade; no final do filme, é notável que Kowalsky, apesar de aparecer menos que a dra. Stone, fora tão importante quanto a personagem principal.

 Voltando aos recursos técnicos, apesar do perfeccionismo de Cuarón, era impossível um filme como Gravidade não deixar deter alguns erros científicos. Alguns deles foram detectados pelo astrofísico norte-americano Neil deGrasse Tyson, que fez críticas à vários filmes de ficção científica; o físico, após assistir o filme, publicou em seu twitter: “Por que Bullock, uma médica, trabalha na manutenção do Telescópio Espacial Hubble?” “Por que o cabelo de Bullock não flutua sobre sua cabeça em algumas cenas convincentes de gravidade zero?”, entre outras coisas. Apesar dos 12 tweets sobre o filme, Tyson alegou ter gostado de Gravidade. Claro que tais deslizes científicos não tiram a perfeição do longa; seu gênero já diz tudo: FICÇÃO-científica, que procura misturar o imaginário com o real. No caso da produção de Cuarón, o real, apesar das falhas apontadas por Tyson, é o ponto mais valorizado.

 O belíssimo 3D é também um dos fatores que permite o público entrar no filme. Se o tradicional 3D foi uma experiência incrível, não consigo imaginar a sensação de agonia do começo ao fim do filme na sala IMAX. A ótima fotografia presente no longa, feita pelo computador, provavelmente, também é um belo recurso acompanha as melhores cenas de voo e destruição em órbita. Falando em cenas de voo, os atores tiveram de fazer treinos específicos para astronautas para encarar com perfeição o papel, simulando da melhor maneira um astronauta girando em órbita. Sandra Bullock teve de gravar a maioria das cenas em uma caixa vazia durante horas. Os excelentes efeitos visuais darão, com certeza, à Gravidade prêmios na categoria de melhores efeitos ou fotografia, além de outras indicações.

 No final, Gravidade mostra que é possível encarar a paisagem além de admirá-la, pois a persistência da dra. Stone para voltar para Terra é o momento em que a personagem atinge seu nível máximo de maturidade e desenvolvimento, sendo o fato de ficar praticamente sozinha no espaço e lutar para retornar pra casa um desafio que, futuramente, contribuísse para uma ação de alta dificuldade. A perfeita mistura de ação, drama e ficção científica, momentos de extremo espanto e angústia protagonizados por ótimos artistas em mais filme com o inquestionável talento de Alfonso Cuarón na direção. De fato, Gravidade fará, não só seus olhos saltarem das órbitas, mas os pulmões e coração saírem pela boca.

Gravidade (Gravity)
Direção: Alfonso Cuarón.
Produção: David Heyman, Alfonso Cuáron.
Roteiro: Alfonso Cuáron, Jonás Cuarón.
Trilha Sonora: Steven Price.
Elenco: Sandra Bullock, George Clooney, Ed Harris, Paul Sharma, Amy Warren.
Nota: 9

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