A dona Augusta
Julião, para os adultos e racionais, era apenas uma velhinha caduca e viúva de
82 anos, que gostava de andar pela cidadezinha com o cajado de pastor do seu
falecido marido; para as crianças, era uma velha maluca que guarda o cadáver de
seu marido em casa e matava as crianças que lhe incomodassem para deixar seus
corpos ao lado de seu marido para regenerá-lo. Tão estranha e perigosa a mente
de certas criancinhas do interior de Pernambuco...
Numa dessas férias
de janeiro, o garoto de 11 anos chamado Leonardo foi mandado ao município de
Fazenda Nova para passar uns dias na casa de seus tios. Lá, o menino aproveitaria com
seus primos o resto das férias, longe do “corre-corre” da cidade. Leonardo era
um garoto inteligente que nunca acreditou nas besteiras que seus primos
contavam sobre a pobre dona Augusta. Era também participante, na cidade, de um
grupinho infanto-juvenil chamado de “Clube dos Céticos”, formado por jovens que
desmentiam qualquer boato sobre lendas urbanas ou histórias sobrenaturais.
Leonardo teria aceitado viajar nas férias para Fazenda Nova para provar aos
seus primos que a dona Augusta era apenas uma velhinha de saúde debilitada e
pretendia contar tal história no Clube, quando voltar.
Leonardo, desde que
fizera sua primeira viagem a Fazenda Nova, ficou amigo do caboclo que cuidava
do aluguel de cavalos. Jorge, como se chamava o caboclo, era um homem de mais
ou menos 30 anos e extremamente simpático. Ao chegar de viagem, Leonardo foi
direto falar com o amigo sobre sua ideia de provar aos primos “matutos” que a
famosa velhinha louca da cidade não era irracional. Jorge riu, pois sempre
achou tudo aquilo uma brincadeira de criança e perguntou, como quem estivesse
entrado na brincadeira:
- Quer que eu vá também. Se qualquer coisa acontecer, terão
um adulto por perto.
Leo pensou por um
momento e respondeu:
- Pode ser. Topa mesmo? Só não faça brincadeirinhas perto
dos meus primos. Eles são muito... assustados. Entende?
Após combinarem
tudo, Leo foi falar com seus primos. Convencê-los a ir foi uma tarefa um tanto
complicada, porém sua prima Marina e seu primo João concordaram, apesar de
estarem um pouco assustados. Marina e João sabiam de casos muito sinistros de
crianças da cidade de Caruaru que haviam desaparecido desde 1997.
Ao cair da noite, as três crianças observaram dona Augusta
caminhando com o cajado de pastor do seu falecido marido, usando dois pares de
meia e um chinelo em cada pé e vestindo uma roupa de frio, devido à baixa
temperatura que fazia durante a noite. A velha parou num barzinho, que ficava
bem próximo a casa dos tios de Leo, entrou, pediu uma bebida e começou a dançar sozinha. Ao ver aquilo, Leo lançou um olhar para os
primos como quem dissesse com aquela pobre criatura era normal como todos os
outros.
Ao perceber que a
velha estava saindo do bar, Leo resolveu chamar os primos para saírem e
entrevistar a tão temida senhora. Saindo de casa, passaram na praça para chamar
Jorge, que ia servir de guarda-costas. O homem, então, seguiu as crianças e até
se divertiu bastante enquanto contava suas piadas sujas a elas. Os quatro
caminharam até a casa da dona Augusta, que ficava um pouco afastada do
município. Leo pretendia lá chegar, ser gentil e entrevistar a senhora, esperando
não insultá-la ou que seus primos não fizessem nenhum comentário maldoso. Coincidentemente, a casa da velha ficava bem
próxima ao cemitério, mas isso não deixou o garoto da cidade desconfiado. Tal
fato, porém, deixava seus primos de cabelos em pé.
Chegando na humilde residência da senhora, os 4
“investigadores” perceberam que ela ainda não havia chegado e resolveram
esperar lá fora, sentados na estrada de terra, na escuridão de uma noite fria e
silenciosa. Leo não pôde deixar de notar um carro estacionado ao lado da casa.
“Devia ser do marido”, pensou o menino.
Passaram-se 10 minutos, até que, finalmente, dona Augusta
chegou à casa, andando da maneira mais lenta possível (era uma velhinha de 82
anos). Ao perceber a velhinha chegando, Leo levantou-se rapidamente e pediu
para que os outros fizessem o mesmo. De repente, o garoto ouviu um estranho barulho
vindo por trás, como se um objeto metálico houvesse atingido alguém na cabeça.
Leo virou-se e mal viu seus dois primos caídos no chão quando uma pá acertou em
cheio seu rosto, fazendo-o desmaiar.
Quando acordou,
tonto e dolorido, o garoto não sabia onde estava. Parecia a sala de estar de
uma casa, cheia de objetos esquisitos que simbolizavam, para ele, magia negra.
Percebeu estar em cima de uma mesa e, ainda muito tonto, tentou ver o que
estava acontecendo do outro lado da sala. Estava ouvindo vozes, parecia uma
conversa.
- Você devia pegar crianças de Caruaru, seu idiota! Lá é uma
cidade grande! Perceberão o desaparecimento de 3 crianças aqui, nesse fim de
mundo! Por que você trouxe esses moleques aqui?
- Vovó, a senhora me disse que eu devia trazer-lhe uma
criança inteligente, com cérebro. Aquele garoto da cidade é um crânio, o
cérebro dele funcionaria perfeitamente no vovô. E a senhora disse que recisava imediatamente de um bom cérebro. - Falou Jorge, de forma tão rápida que parecia estar elétrico.
Leonardo não podia
acreditar na loucura que estava escutando. Seu amigo Jorge era um psicopata que sequestrava
crianças? Ele era neto de uma doida que “praticava” magia negra? As histórias
sobre a velha Augusta eram verdadeiras? Então, aquele carro seria usado por
Jorge para sequestrar crianças em Caruaru e lavá-las aos rituais psicopatas de
sua avó, concluiu o garoto que recuperava a tontura para ver se seus primos
estavam bem. De repente, Leo sentiu um cheiro extremamente desagradável,
percebendo que estava vindo de sua direita. Ao se virar parar ver de onde tal
cheiro estava vindo, controlou-se para não gritar ou fazer algum barulho. Havia
pedaços de cadáveres espalhados em outra mesa, ao lado da sua, e, com certeza,
eram seus primos. Braços, pernas, mãos, tudo estava separado dos corpos.
De repente, a velha aproximou-se de Leo que fechou os olhos,
fingindo estar desmaiado ou morto. Dona Augusta foi em direção a outra mesa,
recolheu os pedaços de corpos e colocou-os dentro de um quarto que ficava ao
lado. Quando a velha abriu a porta de tal aposento, Leo não deixou de notar um
esqueleto sentado numa poltrona, cheio de pedaços de cadáveres ao seu redor.
Percebeu imediatamente que era o senhor Julião e as pobres crianças caruaruenses
desaparecidas. Ao deparar-se com aquela visão tão aterradora quanto a do
próprio diabo, Leo não pensou duas vezes: saltou da mesa, correu em direção a
porta que dava para a saída da casa, arrombou-a e correu. Ouviu a velha gritar
para o neto:
- Pega esse menino! Ele não pode fugir!
Leo correu em
direção ao cemitério, e lá ficou. Ouviu o ronco do motor do carro usado por
Jorge que tentava acha-lo no meio da escuridão e rezou para que não fosse pego.
Após essa experiência horrível, ver seus primos mutilados,
corpos de crianças em decomposição e artefatos de magia negra, Leo nunca mais
fora visto. Desapareceu completamente, deixando seus tios, pais e familiares
desesperados. Jorge fora interrogado pela polícia por ter sido visto com as
crianças, mas seu bom papo e carisma não o fizeram um suspeito do crime. A velha Augusta continua, até hoje,
realizando seus “rituais” com crianças mortas, para trazer seu marido de volta
do mundo dos mortos. Esse, entre outros fatos ocorridos em seu condenado
passado, faz com que Augusta Julião, uma velhinha caduca do agreste nordestino,
seja uma das perigosas psicopatas que fala “oxente”. Nunca mais se teve notícias de Leonardo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário